Para que servem os Museus? José Do Nascimento Junior*

*Antropólogo, Doutorando em Museologia e Patrimônio UNIRIO/MAST, Diretor do Museu do Meio Ambiente/Jardim Botânico-RJ

No mês de maio, precisamente no dia 18, comemora-se o dia internacional dos museus. Museus são instituições culturais presentes em cerca de 200 países, somando mais de 70 mil instituições em todo o mundo. No Brasil, desde 2003, comemoramos a semana de museus, reunindo mais de 3600 instituições museais. Estamos hoje entre os vinte países com maior número de museus no mundo. Isso mostra o quanto os museus são representativos da sociedade contemporânea. A pergunta é: por que criamos museus? Criamos museus porque o ser humano, desde sempre, gerou no contexto de sua vida, objetos com os mais diversos objetivos, no intuito de facilitar sua relação com o meio onde está inserido. Se observarmos os achados arqueológicos mais recentes fica claro que a história da humanidade é a história do desenvolvimento tecnológico dos objetos, para ampliar o domínio do ser humano sobre a natureza que o cerca. Conforme o desenvolvimento humano, ampliam-se e diversificam-se os objetos em quantidade e utilidade, construindo uma sociedade objetal, criando um “sistema de objetos” e na medida em que esse sistema vai tornando-se complexo, fica claro o quanto os objetos são demarcadores da nossa cultura, como referências de tempo, de espaço e de suportes de memória. Nesse sentido, os museus são a representação dessa sociedade objetal como “casas” de guarda e conservação dessa memória assentada no mundo dos objetos.

Se observarmos os achados arqueológicos mais recentes fica claro que a história da humanidade é a história do desenvolvimento tecnológico dos objetos, para ampliar o domínio do ser humano sobre a natureza que o cerca.

Esses objetos comunicam valores, mesmo que muitas vezes não compreendamos ou aceitemos, podemos discutir se um objeto tem valores político, moral, artístico e histórico. E nenhum desses valores tem um caráter absoluto. Os museus são representações da sociedade, são elementos de identidade, são casas de memória, surgindo da forma que conhecemos hoje, pelo caráter acumulativo que a sociedade contemporânea se tornou.

Devemos compreender os museus para além de seus aspectos institucionais, compreendamos como processos, como ferramentas, como uma tecnologia, como uma linguagem que deve estar a serviço de todos aqueles que queiram se apropriar para construção social da memória, de uma forma inclusiva. É impossível olhar a realidade social brasileira e não colocarmos as instituições culturais com a missão da mudança social. Essa é a utopia republicana e democrática. O que está em questão, quando fazemos essa proposta de um museu dialógico, é a reflexão sobre essas instituições num momento de crise da memória, a partir do “dilema de Hermes”, da tradução, interpretação, das construções da alteridade, da compreensão do “Outro”. Trata-se de um dilema de como transformar os museus em verdadeiros “espaços de mediação cultural”, “da fusão de horizontes”, conforme nos colocam os hermeneutas. Essas são tarefas daqueles que atuam nessas instituições - trabalhar criativamente para a construção de uma nova visão na qual o espaço constitua a dialética entre o interior e o exterior, no sentido bachelardiano de uma “imaginação poética”.

Devemos compreender os museus para além de seus aspectos institucionais, compreendamos como processos, como ferramentas, como uma tecnologia, como uma linguagem que deve estar a serviço de todos aqueles que queiram se apropriar para construção social da memória, de uma forma inclusiva

O museu é espaço, disputa e, como tal, envolve doação, recepção e retribuição; articula o material e o imaterial. No momento onde vemos, a cada dia, a ampliação da visitação dos museus, a exemplo do Museu do Amanhã que bateu o recorde de mais de 200 mil pessoas em dois meses, mostra que os museus estão cada vez mais presentes na vida de cada um de nós, nunca deixaremos de produzir objetos e com isso produziremos memórias e futuros, para isso servem e continuarão servindo os museus.

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raul ribeiro
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Raul Ribeiro

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