Os novos deveres de casa Alunos de escola ocupada dividem cozinha, limpeza, segurança e poesia

Texto e fotos de Márcio Menasce

Desde o dia 14 de abril, a rotina dos estudantes do Colégio Estadual Amaro Cavalcanti, no Largo do Machado, Zona Sul do Rio, é feita de tarefas. No entanto, ao contrário do que estão acostumados, os trabalhos não são de matemática, geografia, história e outras disciplinas. Eles agora se dividem em funções na cozinha, na segurança do prédio ou nos grupos de poesia. É que a escola está ocupada, em protesto por melhores condições para a educação estadual.

Em crise fiscal, o governo do Estado não abre os cofres para investir nas unidades de ensino, tampouco concorda em conceder aumento aos professores, que estão em greve desde o início de março. A Amaro Cavalcante não é a única escola ocupada no estado. Ao todo há mais de 40 controladas por alunos, e o número cresce a cada dia.

No colégio do Largo do Machado, os alunos contam com o apoio de professores, que continuam frequentando a escola para orientar os estudantes e dar apoio ao movimento. Eles também têm recebido ajuda de moradores e comerciantes locais. As doações incluem de tudo, principalmente itens de necessidade básica, como papel higiênico e comida. No dia 19 de abril, o jantar, preparado por três alunos, era estrogonofe, com direito a batatas assadas. De acordo com um dos estudantes, eles preparam quatro refeições por dia para os colegas que estão morando na escola.

Assim como no refeitório, a organização do movimento parece funcionar bem. Os responsáveis pela segurança caminham pelo prédio carregando rádios comunicadores e a todo tempo falam entre si. Os alunos dormem em uma única sala, espalhados pelo chão, em colchonetes doados por simpatizantes da ação. Assim, fica mais fácil se manterem seguros. Os portões do Colégio não ficam abertos o tempo todo. A chave roda de mão em mão, mas para entrar, só com autorização. Para passar o tempo, são organizados saraus de música e grupos de leitura de poesia.

Na escola, uma sala em particular evidencia a má gestão do ensino público. É uma espécie de auditório com palco e cadeiras. Porém, o espaço está ocupado por mesas. Sobre ela, centenas de livros empilhados acumulam poeira. De acordo com um aluno, é parte do material didático deste ano, que nunca foi entregue aos estudantes. O mesmo aluno conta que estuda na Amaro Cavalcanti há três anos. Neste tempo, nunca viu a sala aberta para uso. Naquele palco, não há arte há muito tempo.

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