Um rio em agonia São francisco sofre com a ação da seca e do homem

Texto e fotos: André Teixeira

Maior rio exclusivamente brasileiro, o São Francisco passa por momentos de crise. O baixo volume de chuvas nos últimos anos, tanto em seu leito quanto no dos afluentes, transformou o rio de águas fartas numa lembrança distante no tempo. O desmatamento de suas margens e das veredas - tipo de vegetação que se forma em torno das nascentes de sua bacia, protegendo-as e drenando a água até os rios maiores - agrava a situação.

Nesta galeria de fotos, feitas entre agosto e setembro de 2015 no trecho entre as cidades de Pirapora e Matias Cardoso, em Minas, um retrato da situação. Na foto de abertura, acima, vê-se a terra rachada às margens do Rio São Francisco, cena que mostra os efeitos do longo período com pouca chuva na região Norte de Minas.

Na cidade de Pirapora, uma das mais importantes da região e de onde partiam muitas embarcações de transporte de pessoas e cargas, áreas que já foram cobertas pela água do rio aparecem sob a ponte Marechal Hermes, que liga a cidade a Buritizeiro. Na foto ao fundo, o pescador Emanuel Souza, de 42 anos, anda de bicicleta sobre pedras antes cobertas pelas águas do Rio São Francisco. Emanuel diz que no local só consegue pegar girinos, que servem como isca para peixes maiores. Estes só são encontrados 10 quilômetros rio abaixo, numa região menos habitada. "Os peixes se escondem por lá", afirma. Outro pescador (acima), Antônio José Nunes, de 55 anos, observa o leito do rio. Ele diz que não se consegue mais sobreviver da pesca na região.

O chamado "Rio da integração nacional", que passa por cinco estados ao longo dos cerca de 2.800 quilômetros entre sua nascente, na mineira Serra da Canastra, e a foz, na alagoana Penedo, já teve sua morte anunciada por ambientalistas, o que seria uma tragédia ambiental e ecônomica, com profundo impacto na população ribeirinha.

Em Pirapora, o vapor Benjamin Guimarães, que já foi utilizado como meio de transporte, parado às margens do rio porque não há água suficiente para que ele navegue (ao fundo). Acima, caminhão-pipa joga água nos campos de futebol instalados à beira do São Francisco, em área que a água do rio chegava a cobrir.

Na cidade de Felixlândia, às margens da Represa de Três Marias, locais antes usados para banho e passeios de lancha mostram os sinais da seca. Pousadas e restaurantes que têm como principal atração a proximidade com a represa registram queda no número de clientes. A foto abaixo mostra placa com os dizeres "área para banho", fincada onde hoje só se vê uma terra avermelhada.

Na região Norte de Minas, o clima é de desalento. Barcos grandes já não navegam em suas águas - correm o risco de atolar no leito cada vez mais raso. Em muitos pontos, é possível atravessar o rio a pé, com água pelas canelas. Pescadores têm cada vez mais dificuldade para garantir o sustento. Muitos aguardam ansiosos o período do defeso, em que só podem pescar cinco quilos por dia e recebem auxílio financeiro do Governo Federal. O baixo volume de água ameaça também a geração de energia elétrica em suas usinas. Um panorama, enfim, preocupante.

Na cidade de Manga, turistas andam pelo meio do São Francisco. Com a seca, pequenas "praias" se formam no meio do rio. Na foto acima, homem caminha pelo meio do leito do rio com seu cavalo, cena que só é possível devido ao baixo nível da água.

Troncos de eucalipto aguardam transporte às margens da MG - 161, próximo à Cachoeira do Manteiga. O desmatamento da vegetação natural da região é uma das causas apontadas para a seca

Homens retiram areia do leito do rio, com água na altura dos joelhos. A areia é usada na construção civil, e a retirada, embora condenada por ambientalistas, não é considerada ilegal. Eles têm que ir até o meio do rio, encher o barco de areia e depois jogá-la na margem. Para cada viagem, recebem R$ 6,00. Os mais jovens - e fortes - conseguem fazer, no máximo, sete viagens por dia.

Somente barcos pequenos conseguem navegar no São Francisco devido ao baixo nível de suas águas
Na zona rural de Januária, um banco de areia se forma no meio do rio. Na foto abaixo, vê-se uma coloração verde nas águas. Segundo ambientalistas da região, ela se deve à proliferação de microrganismos que se alimentam da poluição. Normalmente, as águas do rio têm cor de barro

Ao fundo, barco de transporte de areia cruza o rio na cidade de Itacarambi, desviando de ilha para não atolar. Na foto acima, grilos atacam mamoeiro na cidade de Ponto Chique. Moradores dizem que a quantidade deste tipo de inseto aumentou muito nos últimos anos e atribuem o fato ao desequilíbrio climático. Abaixo, fábricas lançam rolos de fumaça à atmosfera na cidade de Pirapora.

Caminhão-pipa retira água do São Francisco. A seca no rio ameaça o fornecimento de água para vários municípios da região
Quando a caminhada é inevitável, a sombrinha se torna um acessório fundamental. Em Ponto Chique, menina se protege dos raios de sol com guarda-chuva
Garotos jogam futebol às margens do São Francisco, levantando poeira no campo de terra batida
No pequeno cemitério da cidade de São Romão, uma imagem curiosa: túmulo é "protegido" do sol por um chapéu
André Teixeira

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