TOPONIMIA MIRANDA DO CORVO

António Manuel Carvalho Rodrigues

TOPONÍMIA DA VILA DE MIRANDA DO CORVO

Ficha Técnica

Título: Toponímia da Vila de Miranda do Corvo

Autor: António Manuel Carvalho Rodrigues

Edição e distribuição: Câmara Municipal de Miranda do Corvo

Data: 2008

Nota sobre o autor:

António Manuel Carvalho Rodrigues nasceu a 15 de Outubro de 1972 nos Bujos, Miranda do Corvo. Licenciou-se em História, variante de História da Arte na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra.

Trabalha actualmente como técnico superior de História no Gabinete Técnico Local das Aldeias de Semide e do Senhor da Serra.

Está a frequentar o Curso de Especialização em Ciências Documentais na FLUC e a preparar a sua dissertação de mestrado. A par disto é colunista do jornal Mirante e investigador de História Local.

INTRODUÇÃO

Quem calcorreia as ruas da nossa vila há vários anos, deteve-se já por certo a pensar em duas questões. Primeiro, porque tem uma rua determinado nome e, sendo este o de uma personalidade, qual a relação desta com a vila. Por outro lado, a percepção das mudanças que, a nível urbanístico, certas artérias sofreram na última trintena de anos, é, por demais, evidente.

Se quisermos ir mais longe, temporalmente, que os anos oitenta do século passado, que é no fundo a baliza existencial do autor, e nos apoiarmos nos prestimosos contributos de quem melhor – e há mais tempo - do que nós conhece a sua terra, podemos socorrer-nos dos escritos de personalidades como Belisário Pimenta, Prof. Augusto Paulo ou Dr. Armindo Rodrigues, nos seus prestáveis artigos nos jornais “Alma Nova” e “Diário de Coimbra” aquele e “Mirante”, estes.

Mais do que isto, pudemos conversar com algumas pessoas que fruto do próprio protagonismo que exerceram, prestaram testemunhos da evolução de Miranda de há trinta anos para cá, alguns deles verdadeiras revelações: está neste caso o contributo imprescindível do Dr. Jaime Ramos que pela primeira vez, suponho, terá aberto o seu riquíssimo baú de memórias desta sua vila de sempre.

Após percorrermos todos estes trilhos mais espantados e convencidos ficaremos com as alterações urbanísticas e de infra-estruturas por que esta quase milenar vila passou nas últimas décadas, fruto da sua localização próxima da cidade do Mondego e do impacto trazido por diversos factores de que a introdução do caminho de ferro, no dealbar do século passado, não será o de somenos importância. São, pois, enormes as mutações e urgem ser conhecidas e divulgadas sob pena de que a história mirandense possa ser esquecida.

Assim, coligimos documentação dispersa, relemos artigos das personalidades citadas e ouvimos as pessoas, sobretudo os menos jovens, na rua. O trabalho é o que se publica, certamente não isento de erros e imperfeições. De algumas personagens não conseguimos mesmo obter nenhum dado biográfico que fosse comprovadamente válido. Pretendemos, pois, sobretudo dar a conhecer a todos os mirandenses – novos e velhos – a vila de Miranda, as suas artérias, o modo como surgiram e se desenvolveram, as personalidades que elas simbolizam e o seu contributo para o desenvolvimento da vila, no fundo, a nossa memória colectiva.

O Autor

Avenida e Praça José Falcão

Delimitada pelo Largo Tenente Romãozinho (Sudoeste)

e Rua D. Afonso Henriques (Nordeste)

José Joaquim Pereira Falcão foi Lente de Matemática na Universidade de Coimbra e político. Nasceu no lugar da Pereira, concelho de Miranda do Corvo em 1 de Junho de 1841 e morreu em Coimbra a 14 de Janeiro de 1893. Matriculou-se em 1858 nas faculdades de Matemática e Filosofia, doutorando-se em Matemática a 31 de Julho de 1865. Em 8 de Setembro de 1870 foi nomeado lente substituto de Matemática e ajudante do Observatório Astronómico; em 7 de Maio de 1874 foi promovido a lente catedrático; em 13 de Março de 1888 ascendeu a primeiro astrónomo e nomeado director interino do Observatório em 28 de Julho de 1890. Depois do seu doutoramento, foi nomeado sócio efectivo do Instituto de Coimbra.

Espírito liberal, apaixonou-se pelas ideias republicanas, colaborando assiduamente nos jornais republicanos do país, especialmente sobre assuntos de ensino. A ferocidade com que foi reprimida a insurreição comunista de Paris, deu origem a que escrevesse um opúsculo sobre o assunto, com o título: A comuna de Paris e o governo de Versalhes (Coimbra, 1871), que foi impresso na imprensa da Universidade, sem o nome do autor e que lhe valeu um processo. Em 1878, com Alexandre da Conceição e Augusto Rocha, fundou o semanário republicano A Justiça. Sem nome de autor, publicou a Cartilha do Povo (Coimbra, 1884), que foi um dos escritos mais notáveis da propaganda republicana. A primeira cadeira que regeu na Universidade foi Mecânica Celeste e à data do seu falecimento regia Astronomia.

Depois de malograda a revolta de 31 de Janeiro, foi encarregado de reorganizar o partido republicano no Porto, para o que escreveu artigos políticos na Voz Pública e reuniu ali uma assembleia de que saiu o Manifesto, que ele próprio redigira. Proposto deputado em 23 de Outubro de 1892, não tardou que a morte viesse cortar a sua carreira profissional e política.

O dia 1 de Junho, data de nascimento de José Falcão, foi também a data escolhida para a comemoração do feriado municipal no nosso Município. Centro nevrálgico da vila principalmente em termos políticos, se tivermos em conta que aqui se situam os Paços do Concelho, estas artérias são como que o bilhete de identidade de Miranda, embora nos últimos anos tenhamos vindo a assistir a uma natural descentralização.

O presente edifício do Quartel dos Bombeiros foi inaugurado quando era presidente de Câmara o Sr. Jorge Cosme, sendo presidente da Direcção o Sr. Virgílio Paulo. No entanto, até chegar ali, os Bombeiros passaram por vários sítios. O edifício inicial terá sido na Rua José Firmino Ribeiro da Cunha, onde estiveram estacionadas as antigas viaturas que hoje podemos admirar no Museu dos Bombeiros. Dali passou para a zona da Feira da Sardinha onde permaneceu durante alguns anos. Passou a seguir para a Praça José Falcão onde hoje está o edifício da sede do Grupo Isidoro. Aqui foi construído o primeiro Quartel dos Bombeiros de Miranda do Corvo que será uma obra muito demorada. Ela arranca ainda antes do 25 de Abril. Inicialmente a localização não era para ser aquela mas sim onde hoje se situam as “Galerias Bê-Tê”. Era na altura presidente dos Bombeiros, o Sr. Jaime Ramos quando adquiriram aí o terreno para fazer o Quartel. Entretanto o Comendador Mário Antunes ofereceu o terreno na Praça José Falcão e os Bombeiros venderam o outro terreno ao Sr. Barreto.

Dá-se depois o 25 de Abril, muda o regime político, os apoios são escassos e a construção do quartel arrasta-se no tempo. No entanto, por esta altura, o novo terreno já é utilizado para estacionar as viaturas, embora o edifício não esteja ainda construído. Será depois inaugurado em 1978, quando era presidente dos Bombeiros o Dr. Jaime Ramos. Um dos comandantes da altura era o Sr. Carlos Torres, um homem que terá um papel muito importante na conclusão das obras. A mudança de regime fará com que cheguem muitas viaturas aos Bombeiros provenientes da guerra de África.

O fim do conflito disponibilizará viaturas que serão depois adaptadas para estas novas funções, sendo aqui de destacar a importância da acção do Sr. Carlos Torres na ultrapassagem dos obstáculos burocráticos com Lisboa. Como na altura não haviam as comparticipações como há hoje, foi necessário várias vezes pedir dinheiro à população de modo que quando o Quartel foi inaugurado na placa ficou imortalizado que ele tinha sido construído “Com a ajuda do Povo de Miranda”. Esta pedra está agora no Museu dos Bombeiros.

A Casa da Câmara, outrora existente, situava-se junto ao rio a poente da actual, sensivelmente em frente da actual Pensão Caracol – igualmente um símbolo da vila – tendo o alçado principal virado a Norte. Teve uma vida útil de 90 anos: desde 1828, ano em que ficou concluída, até 1918 ano em que foi demolida para dar lugar à actual.

«O Pelourinho da Vila, obra do primeiro quartel do séc. XVI, existia já ali no local onde foi erigida a antiga Casa da Câmara, conforme nos dá nota o Dr. Virgílio (…): «Banham-lhe os alicerces de velha Câmara, agora renovada, - junto à qual um pelourinho ficara mostrando as suas figuras delicadamente cortadas na pedra alva de Ançã, - as águas...do Alhêda;...». Este monumento (classificado) que simbolicamente se liga à justiça do passado, encontra-se guardado nos actuais Paços do concelho; neste edifício está exposto também o Escudo Real que encimava a porta principal da velha Câmara e que em 1910, aquando da proclamação da República, foi dali retirado. Aquele símbolo da monarquia deposta foi apeado por um republicano dessa época, o Sr. António Quaresma (...)». (RODRIGUES, Armindo, Toponímia Mirandense – subsídios para a sua história, jornal “Mirante”, nº 123, Miranda do Corvo, 1988).

Aqui se realizou a feira semanal das quartas-feiras até 1982, ano em que mudou de lugar não sem o desagrado de muitos mirandenses. O espaço entre a actual Câmara e a Rua D. Afonso Henriques é ainda chamado por algumas pessoas mais idosas «Cimo da Feira».

«(...) existe à entrada desta mesma rua uma casa digna de referência. Interiormente podem admirar-se pinturas de algum valor artístico executadas directamente nas paredes e inspiradas em motivos ligados à actividade comercial por via marítima. No exterior, o seu alpendre levantado sobre colunas de pedra é outro motivo que desperta a nossa atenção. Este alpendre foi inicialmente varanda, já que essa casa dispunha de 1º andar e rés-do-chão; este encontra-se exteriormente soterrado devido às sucessivas subidas do pavimento envolvente. As obras da ponte actual foram talvez as que mais ajudaram a efectivação deste fenómeno e que igualmente deixaram soterrados os restos dum arco em pedra que em tempos recuados teria servido à estrutura da ponte.

Por esta rua se fazia o acesso ao «Buraco»; existe ainda ali essa abertura em arco românico com cerca de dois metros de vão e altura regular, mas hoje difícil de precisar já que se encontra parcialmente obstruída. Essa passagem servia de ligação à parte alta da vila, principalmente à Igreja; era continuada por uma escadaria que terminava no local onde foi construída a Casa Paroquial e que deixou de ser transitável a partir da data em que essa construção se efectivou. Seria em tempos recuados a porta principal que levava ao interior da antiga muralha? Talvez, mas temos de ficar no campo das suposições. Tido como certo é que a passagem por aquele local era um direito consuetudinário (tradicional), das gentes da vila e arredores e, como tal, deveria ter sido preservado; (...)» (RODRIGUES, Armindo, Toponímia Mirandense – subsídios para a sua história, jornal “Mirante”, nº 124, Miranda do Corvo, 1988).

O Sr. Professor Augusto Paulo, acrescenta ainda: «A Rua do Buraco, como sempre foi conhecida, ostenta desde há alguns anos uma placa toponímica dando-lhe o nome de 13 de Outubro. Esta designação derivou do facto de alguns moradores quererem assinalar a data da conclusão do saneamento e pavimentação desta rua. Contudo parece não haver qualquer reconhecimento oficial deste facto por parte da Câmara e da Junta de Freguesia e o povo continua a chamar-lhe Rua do Buraco, como tradicionalmente o vinha fazendo.» (RODRIGUES, Armindo, Toponímia Mirandense – subsídios para a sua história, jornal “Mirante”, nº 124, Miranda do Corvo, 1988).

Parece-nos também importante dedicar alguma atenção a uma zona que se estende desde a Feira da Sardinha até ao rio Dueça, conhecida antigamente por Relego e, mais recentemente, por Volta da Costa. O Relego, tomado no sentido de lagar, adega ou celeiro em que o senhor das terras recolhia os seus frutos, parece querer significar o imóvel pertença do senhorio da vila e utilizado para arrecadar o vinho, cereais e demais produtos provenientes das rendas a que tinha direito. Foi também esta zona, no entender de Belisário Pimenta, um dos pólos de localização da indústria artesanal da olaria quando ela ainda se situava dentro do aro da vila.

Esta praça dedicada a José falcão, com o figurino que tem actualmente, foi inaugurada em 1 de Junho de 1983, no feriado municipal do concelho, quando era presidente de Câmara o Dr. Jaime Ramos. Antes existia apenas um largo conhecido como o “Largo da Feira”. Este largo, anos antes, na época do Dr. Francisco Martins, do Sr. José Campos e do Sr. Arménio da Costa Simões, aquele Presidente, estes vereadores da Câmara, foi alvo de obras que envolveram, fundamentalmente, a mudança da estrada que passava originalmente pelo meio dos plátanos, para fora junto às casas. Havia um jardim importante ao lado da Câmara Municipal com uma pérgola e um lago com peixes, situado entre as actuais instalações sanitárias públicas e o edifício da Câmara.

Do lado de cima, em simetria, havia também o início de um outro jardim que nunca foi concluído, construído pela Câmara Municipal com o apoio monetário do Comendador Mário Antunes. Na altura a pérgola e os jardins foram destruídos o que causou grande polémica. Construíram-se as retretes que substituíram um velho urinol metálico. O chão foi preenchido por calçada, preta e branca, imitando um tabuleiro de xadrez, tudo isto na zona onde se encontra o parque infantil, cuja última obra de conservação foi feita há cerca de um ano na presidência da Dra. Fátima Ramos.

A feira semanal acontecia neste largo fronteiro à Câmara e Jaime Ramos quando chega à Câmara decide transformar este espaço na sala de visitas do concelho. Para tal foi necessário retirar a feira deste espaço, o que implicava a criação de condições para que esta pudesse ser retirada. Para isso abriu-se a Avenida Pe. Américo em direcção à Casa do Gaiato, a primeira verdadeira avenida da vila com ruas largas. A ideia da abertura desta avenida foi dada ao Dr. Jaime Ramos por um indivíduo da Lousã, o Sr. Lobo, pai da Dra. Carla Lobo, numa conversa de café. O Dr. Jaime Ramos dirige-se junto à Igreja Matriz e daquele ponto vislumbra a futura avenida.

Foi possível assim, sem grande choque, poder mudar a feira semanal e iniciar as obras na praça. Na presidência do Sr. Jorge Cosme constrói-se o edifício do Posto de Turismo. As duas pontes pedonais que existem junto à Câmara foram construídas durante a presidência do Eng. Simões Pereira, tal como o arranjo da Rua Belisário Pimenta. A Ponte da Feira da Sardinha e a actual Ponte do Meio estavam em ruínas e foram feitas de novo no tempo do Dr. Jaime Ramos. Na época do Sr. Jorge Cosme foram feitos os dois passeios pedonais a lateralizar a Ponte de Cima, na Rua D. Afonso Henriques.

Há pouco tempo toda esta zona até á Feira da Sardinha, e nas vias mais antigas, assistiu à troca do alcatrão pela calçada, fruto do programa de revitalização da zona histórica criado, pela Câmara, através do G.T.L., o Gabinete Técnico Local, na presidência da Dra. Fátima Ramos. Importa também lembrar que a mudança da feira de lugar causou alguma celeuma, sobretudo entre os comerciantes, que não queriam que ela mudasse de lugar. O Sr. Horácio “Alfaiate”, o Sr. Artur do “Caracol”, o Sr. Barreto da Ourivesaria, enfim houve um conjunto de comerciantes a quem a ideia não agradou de início, preocupados com o seu negócio como era lógico e natural. Também os feirantes, quando o recinto foi fechado e a feira mudada para a Av. Pe. Américo, mostraram o seu descontentamento o que fez com que naquela quarta-feira tenha que ter vindo uma força da G.N.R. com capacetes e viseiras para garantir a segurança.

Ainda na presidência do Dr. Jaime Ramos, foram comprados os terrenos à família Ferrer onde hoje se situa a Praça da Liberdade, e para onde será mudada a feira semanal e quando foi preciso fazer aqui obras a feira teve novamente que ser mudada para a Rua 25 de Abril, uma rua que também entretanto tinha sido aberta. Há, pois, uma sucessão de ruas que foram abertas. Jaime Ramos abre a Av. Pe. Américo, a Praça da Liberdade e as ruas envolventes, incluindo a rua para a “Associação” e a Rua 25 de Abril o que permitiu que a feira pudesse “andar a inaugurar” as novas artérias. As pessoas que inicialmente mostraram o seu desacordo, acabaram por concordar com as opções tomadas havendo mesmo quem, entre elas, ache que a feira deveria ter sido localizada ainda para mais longe e para um lugar com mais espaço. Obviamente restará sempre a parte afectiva de todos os que se recordam da feira neste lugar.

Falar da Praça José Falcão é falar também obrigatoriamente dos seus cafés, nesta artéria do centro histórico da vila. Para além dos dois novos espaços “O Jardim” e a “Cores e Sabores” existe o Café Avenida, o Café Central que foi do Sr. Humberto, depois do Sr. António Marreco, passando posteriormente para os actuais proprietários, onde prontifica o “Patacas”; e a Pensão e Restaurante “Caracol”. Deste edifício se tem a ideia de que é realmente muito antigo pois quando entramos no estabelecimento este tem um lajeamento inferior ao nível da estrada, e muito polido. Existiu ao cimo da Praça também uma mercearia da família Parreira que continha uma taberna pertencente ao Sr. Júlio Parreira. Todos estes comércios dinamizavam esta zona da vila.

Como curiosidade podemos afirmar que existiu também, na Praça José Falcão, mais propriamente na varanda da Câmara, um rádio que dava notícias da guerra, facto que muitas das pessoas mais velhas se lembrarão. Quando Jaime Ramos era presidente, após se proceder ao arranjo da praça, decide-se colocar uns altifalantes, mas descobre-se que tal acto era ilegal. Já como deputado na Assembleia da República proporá um Projecto de Lei a permitir a liberdade de difusão das rádios locais em Portugal. Assim rádios, como a nossa Rádio Dueça, nascida da carolice de muitos entre os quais ele, que contou com a ajuda do Eng. Júlio Sales para elaborar o emissor “pirata”, verá a sua actividade licenciada.

Avenida Pe. Américo

Delimitada pela Rua D. Afonso Henriques (Sudoeste) e E.N. 17-1 (Este)

A 16 de Julho de 1956 faleceu no Hospital de Sto. António, Américo Monteiro de Aguiar, o bondoso Pe. Américo, na sequência de um acidente de viação. Alguns mirandenses tê-lo-ão conhecido pessoalmente, mas a grande maioria conhecê-lo-á apenas pela Obra que nos deixou a todos, e que, nascendo nesta terra, se espalhou por esse mundo fora. Américo Monteiro de Aguiar nasceu em Galegos, Penafiel, em 23 de Outubro de 1887. Entre os 17 e os 36 anos viveu em África, onde logrou alcançar grande desafogo e bem-estar. Tomou o hábito de S. Francisco em Vilarinho, Tuy (Espanha) a 14 de Agosto de 1924. Entrou para o Seminário de Coimbra em 1925, celebrando missa pela 1ª vez no dia 29 de Julho de 1929.

Fundou a primeira Casa do Gaiato, em Miranda do Corvo, em 7 de Janeiro de 1940 e a Casa do Gaiato das Ruas do Porto em 1943. Começou com o Património dos Pobres no ano de 1951. Inaugurou a Capela do Calvário, em Beire (Paredes), no dia 12 de Julho de 1956. Quatro dias depois, como já ficou dito, faleceu no Porto e a seu pedido foi sepultado em cova rasa no cemitério de Paço de Sousa. Actualmente os seus restos mortais encontram-se na capela da Casa do Gaiato de Paço de Sousa.

Esta avenida foi aberta quando Jaime Ramos era presidente de Câmara. Recebeu obras de beneficiação, relativamente ao leito do rio, na presidência de Jorge Cosme, e tem recebido diversos melhoramentos até hoje, dotando-a de um aspecto mais urbano.

Bairro da Associação

Delimitado pela Rua da Cova da Ponte (Este)

Este bairro é criado por uma operação de loteamento na vila por iniciativa camarária. Trata-se de uma quinta comprada quando Jaime Ramos era presidente de Câmara e cujos últimos proprietários eram da família do Sr. Arnaldo Cosme. Tratava-se aqui de fazer também uma operação do tipo daquela feita na Quinta do Viso. Entretanto Jaime Ramos sai da Câmara em 1990, indo para o Governo Civil. Fica na Câmara uma outra equipa que era composta pelo presidente Dr. José Lopes e pelos vereadores Prof. Augusto Paulo, Dr. Fausto Luís, Sr. Jorge Cosme e Eng. António Simões.

Segundo afirmou Jaime Ramos, esta nova equipa não gostou muito da ideia, achou que o negócio não era bom para a Câmara e que o terreno não tinha grandes condições. Um dia num almoço entre eles e o Dr. Jaime Ramos, na “Associação”, eles reafirmaram que aquele tinha sido um mau negócio, o que deixou o presidente da A.D.F.P. satisfeito, porque propôs logo que esta comprasse à Câmara o terreno, nas mesmas condições, e promovesse ela própria o negócio. Foi depois a A.D.F.P. que procedeu ao loteamento que hoje existe, prevendo uma parte para construção de moradias particulares. Ficou ainda com dez lotes para moradias geminadas e quatro lotes para prédios que ainda possui, aguardando uma melhoria no mercado da construção civil.

A determinada altura – afirma Jaime Ramos - este bairro começa a gerar uma grande polémica entre a A.D.F.P. e a Câmara Municipal fruto das exigências feitas, por esta, ao nível do loteamento e consideradas abusivas em termos legais por aquela e, também, devido à diferença de tratamento que aquela achava estar a ser alvo por parte desta, quando comparados com outros promotores privados existentes no concelho.

Tal situação criou um diferendo grave durante uns anos entre o presidente da Câmara, Jorge Cosme e o Presidente da A.D.F.P., Jaime Ramos, extravasando, igualmente, para a Quinta da Paiva.

Bairro Francisco Sá Carneiro

Antiga Quinta das Barriguinhas

Delimitado pela Rua dos Oleiros (Sudeste)

Político e advogado português, nasceu no Porto a 19 de Julho de 1934 e morreu em Camarate, Loures, a 4 de Dezembro de 1980. Foi um dos fundadores da Cooperativa Cultural Confronto e director da Revista dos Tribunais. Foi deputado independente da conhecida Ala Liberal entre 1969 e 1973. Após a Revolução de 25 de Abril de 1974, Sá Carneiro foi um dos fundadores do Partido Popular Democrático (PPD), ficando a presidir aos seus destinos. Fez parte do governo provisório entre Maio e Junho de 1974. Líder do Partido Social Democrata (PSD), nova designação do PPD, e em conjunto com o Centro Democrático Social (CDS) e o Partido Popular Monárquico (PPM), constituiu, em 1979, a Aliança Democrática (AD), que venceu as eleições intercalares, ascendendo por esse motivo a chefe do Governo.

Sá Carneiro obteve a maioria absoluta nas eleições de 1980, vindo a falecer nas vésperas das eleições presidenciais, num desastre de aviação. Este desastre ainda não está esclarecido. Subsistem duas hipóteses: uns defendem a tese de atentado, outros defendem a de acidente. Publicou, entre outras obras, Uma Constituição para os Anos 80, Contributo para um Projecto de Revisão (1979).

Este bairro nasce durante a presidência de Câmara do Eng. Simões Pereira, que faz o projecto e que compra os primeiros terrenos para o bairro aqui nascer. Depois, já na presidência de Jaime Ramos compram-se os restantes terrenos e lança-se a operação de loteamento do Bairro Sá Carneiro. Este é o primeiro bairro que surge em Miranda do Corvo. Os terrenos assentavam em inúmeras pequenas parcelas e muitos quintais que a Câmara teve que juntar e, nalguns casos, expropriar com base no interesse público, o que provocou algum desconforto nos proprietários.

Este projecto para o bairro consistia num conjunto de lotes para moradias e outro para a construção de prédios. Os lotes para moradias eram vendidos ao próprio, isto é, com a obrigatoriedade de ser o próprio adquirente a construir a sua habitação, sob pena de aquele retornar à Câmara, evitando assim a especulação imobiliária. Isto nem sempre foi cumprido mas era a ideia de base. Como no início dos anos 80 havia uma grande crise de construção em Miranda, basicamente por falta de investidores à altura, crise essa que se generalizava ao próprio país e que só seria suplantada com a entrada na C.E.E. em 1985, não surgiram interessados e teve que ser a própria Câmara a levar a cabo a construção dos prédios, como habitação social, com o apoio do Fundo de Fomento da Habitação.

Logo na altura se percepcionou que, apesar da crise, havia muitas pessoas a procurar este tipo de habitação, não só mirandenses, mas também gente de fora, como foi o caso de dois jornalistas de renome, um ligado ao Diário de Coimbra, Rui Avelar; e outro jornalista do Comércio do Porto e director de um semanário em Coimbra. Conseguiu-se assim, talvez pela primeira vez, trazer para a vila gente da cidade. Inverteu-se um processo que sempre tinha funcionado ao contrário e que consistia em serem os mirandenses a sair daqui e ir para a cidade. Todos aqueles que tinham hipóteses de terem famílias que lhes suportassem os estudos, iam estudar para Coimbra e por lá ficavam. Os primeiros mirandenses que foram fazer estudos universitários e regressaram a Miranda foram a Dra. Maria de Lurdes Parreira Branco, o Dr. César Fernandes e o Dr. Jaime Ramos.

Os únicos investimentos na construção civil, com algum significado, feitos até aquela altura tinham sido apenas três: o investimento feito nas moradias do Bairro do Carvalhal, construídas pelo Sr. Joaquim Parreira, que esteve na fundação da empresa Branco & Santos e que, de certa forma, impulsionou aquele bairro; um outro investimento fora feito por um senhor de Semide que funda, também, o Café Pentágono em Semide e que faz no Largo Manuel Pereira Batalhão o prédio onde hoje está o Restaurante Caniço; e o Sr. Jaime Ramos que recupera um prédio para alugar na Rua da Cruz Branca, para além de algumas vivendas.

O bairro tem o nome de Francisco Sá Carneiro devido ao facto de este político falecer, exactamente, naquela altura tratando-se, portanto, de uma homenagem a ele feita.

Falar deste bairro é também falar do campo de futebol que lá existe. O Comendador Mário Antunes doa uma parte do terreno a que se juntarão outras parcelas entretanto compradas. As obras que lhe deram o aspecto actual vêm da época do Sr. Lídio Alves Gomes que teve um papel muito importante na década de 70 e que foi presidente do Mirandense antes do 25 de Abril, ou seja, em fins dos anos 60 e início dos 70. Após este período, foi inaugurada a iluminação do campo, já na presidência do Mirandense por parte do Dr. Jaime Ramos, quando este contava apenas 21 anos. O bairro seguiu a sua pacatez sem obras de monta até há pouco tempo quando se fez a reconstrução da área de lazer para as crianças, já na presidência da Dra. Fátima Ramos.

Bairro da Quinta do Viso

Delimitado pela Rua dos Oleiros (Oeste)

Este bairro nasce de uma iniciativa da Câmara quando Jaime Ramos era presidente. A Câmara comprou o terreno e loteou-o para efeito de construção de moradias. Esta antiga quinta era uma das mais importantes da vila. De resto Miranda não teve grandes propriedades, ao contrário por exemplo da Lousã, de Condeixa ou do Espinhal. Esta quinta passou pela mão de vários proprietários. Nasce com um emigrante que retorna do Brasil e constrói aquela casa que hoje está na base da estalagem que lá existe, tal como a própria arquitectura original do imóvel deixa antever. Um dos últimos proprietários foi a família Costa Santos ainda antes da família que a vendeu à Câmara, decidindo abandonar Miranda por razões familiares.

Jaime Ramos era presidente e também médico da família na altura em que a quinta passa para a Câmara. Esta fez depois o seu loteamento preservando a parte da casa de quinta logo com a ideia de que ela pudesse ter uma vocação eminentemente turística. Foi a própria Câmara que logo idealizou o projecto de um hotel ou de uma estalagem, aproveitando aquele imóvel, colocando este terreno à venda conjuntamente com um terreno na Rua Mota Pinto, junto à G.N.R., com o compromisso de que quem ficasse com este rentável terreno tivesse igualmente que proceder à construção do hotel.

Os terrenos foram vendidos em hasta pública em 1989 e estes dois foram comprados pelo Sr. Fernando Pereira, tendo como sócio o Dr. Mendes Silva que foi presidente da Câmara de Coimbra. Este na altura tinha começado a fazer alguns investimentos em Miranda mas acabou por falecer num desastre de automóvel. Esta construção do hotel sofreu alguns atrasos pela morte do Dr. Mendes Silva, por um lado, e por outro porque a Câmara consegue naquela altura que o Centro de Biomassa para a Energia viesse para Miranda havendo a necessidade de instalá-lo. Assim aquele espaço foi alugado até que o Centro de Biomassa tivesse uma instalação.

O loteamento da Quinta do Viso assentava na ideia de ser a Câmara a promotora de investimentos na área da habitação, permitindo às pessoas terem hipótese de construir moradias e terem casa própria, mas também no pressuposto de serem investimentos rentáveis para a própria Câmara. Esta preparava as infra-estruturas, vendia os lotes, embora a preços controlados evitando a especulação, obrigando no entanto as pessoas a construir dentro de determinados prazos. Após 1989, a quinta só voltou a ter obras infraestruturais já na presidência da Dra. Fátima Ramos com a construção de passeios e o arranjo da zona verde.

Beco do Correio

Delimitado pela Rua da Filarmónica (Nordeste)

Sito na actual Rua da Filarmónica, do lado direito da actual sede do Clube Recreativo Mirandense, antiga Casa dos Melos. Deriva o seu nome da casa onde funcionou a tipografia de Manuel Caetano da Silva, avô de Belisário Pimenta e o Posto dos Correios.

Escadas de S. Tiago

Delimitadas pela Rua de S. Mateus

Nestas escadarias situa-se a antiga Casa Paroquial que serve, actualmente, a Rádio Dueça. Segundo a lenda aqui se iniciava o túnel que desembocava lá em baixo na zona agora conhecida como “Buraco”. Recebeu diversas melhorias ao longo do tempo e foi alvo, recentemente, de obras de beneficiação, tal como toda a zona histórica.

A iluminação nesta e noutras artérias da zona histórica contêm uns candeeiros que são contemporâneos do Eng. Afonso Garcês, da época em que a Câmara era co-proprietária da Federação eléctrica. Estes candeeiros têm representado um corvo porque foram feitos sobre moldes executados para a Câmara de Lisboa e utilizados nas suas ruas históricas. Pela primeira vez a vila teve iluminação moderna substituindo as antigas lâmpadas amarelas de filamento.

Ladeira do Calvário (ou Ladeira do Cemitério)

Delimitada pela Rua do Cruzeiro (Nordeste)

Toma o seu nome pelo acesso que dá ao conjunto monumental inaugurado nos anos 60 por intercessão do Pe. Coimbra, do Sr. Fausto Branco e de um benemérito mirandense radicado no Brasil, o Comendador Mário Antunes, altura em que decidiram reurbanizar aquele espaço no cimo do monte.

Ladeira do Carvalhal

Delimitada pelo Largo do Carvalhal (Sul)

Largo dos Balaustres

Delimitado pela Ladeira do Calvário (Sudoeste)

e Rua do Cruzeiro (Nordeste)

Largo do Carvalhal

Delimitado pela Rua das Amoreiras (Oeste)

Largo e Praça da Cruz Branca

Delimitado pela Rua 25 de Abril e Rua Dr. Fausto Lobo

Tanto a cruz branca como a cruz trevada que se situa em frente à capela do Calvário estão datadas de 1871. Numa época em que ainda não se falava em caminho-de-ferro, nem veículos automóveis, o entroncamento da estrada que segue para o Espinho situava-se naquele local. A Cruz estava no meio do largo e a procissão torneava-a. Só quando as estradas se tornaram estreitas para o movimento é que a cruz se colocou ao lado tal como ainda hoje permanece. A terceira cruz erguia-se em Vila Sêca e era apelidada de Cruz do Cabo, conforme informação prestada pelo Sr. Prof. Paulo no jornal Mirante.

A Cruz Branca era o local original onde se dava o cruzamento entre a estrada Miranda-Espinhal e a estrada para as Meãs. Esta foi depois atravessada pela linha de caminho de ferro, mas ela partia originalmente de junto da Cruz Branca em direcção às Meãs, como ainda hoje é perceptível, apesar de ter sido encerrada. Originalmente o início desta rua 25 de Abril, compreendida entre a cruz e o edifício comercial do Sr. Júlio Parreira, era conhecida como a Rua Heróis de Dadrá. Este nome teve que ver com a presença de Portugal na Índia e, mais especificamente, de quando a União Indiana ocupou a Goa Portuguesa.

O Sr. Júlio Parreira é, também ele, uma figura incontornável de Miranda. Possuidor de um armazém de vinhos nesta rua, foi também o primeiro presidente de Junta após o 25 de Abril e, como vereador, juntamente com o Sr. Prof. Lídio Alves Gomes ganha as primeiras eleições democráticas, sendo presidente da Câmara o Eng. Simões Pereira. Eram da oposição, na altura, duas figuras igualmente interessantes: o Dr. Pereira, de Casais de S. Clemente que foi um quadro importante ligado à indústria cimenteira, homem do Partido Socialista e que acabará por ser assassinado em Setúbal; e o Sr. João Pereira que depois vai viver para a Lousã e que é, actualmente, presidente da Junta de Freguesia de Serpins.

Ao lado desta rua existia um terreno que era propriedade do Sr. Jaime dos Santos, um importante comerciante de porcos, daí ser conhecido como o “Jaime Porqueiro”. Este indivíduo possuía ainda uma casa muito interessante para a época na Rua da Estação, onde hoje existe o edifício do Cinema. A A.D.F.P. adquiriu essa casa onde construiu este equipamento e o seu primeiro lar para deficientes e doentes crónicos, cujo primeiro residente foi o Sr. Avelino António, de Pai Viegas.

Neste local, para além dos escritórios do Sr. Jaime, existia igualmente uma torrefacção de café e de amendoim, o que prestava àquela zona um cheiro muito agradável que algumas pessoas ainda hoje recordam. A torrefacção era pertença da família Correia, oriunda de Podentes, que possuía a “União de Mercearias Mirandense”, uma casa muito importante, junto à linha de caminho de ferro, fundada pelo Eng. Augusto Correia. Esta empresa, com a evolução do mercado, acabará por ter o mesmo fim que muitas outras, ou seja, o seu encerramento.

Aquele Eng. Augusto Correia foi um homem muito importante no antigo regime: presidente da Câmara de Penela; vice-presidente da Câmara de Coimbra e deputado da União Nacional quando se dá o 25 de Abril. Aderirá depois ao Partido Socialista chegando a ser candidato à Câmara de Penela por este partido, embora não tenha ganho as eleições. Esteve também ligado, em Coimbra, ao Futebol Clube dos Olivais, tendo sido alvo de algumas homenagens. Faleceu há pouco tempo.

O Eng. Simões Pereira tenta, pela primeira vez, negociar aquele terreno com o Sr. Jaime, mas o arrendatário da altura move uma acção contra a Câmara, para ficar com o terreno, processo este que se arrastará durante longos anos. Apenas uma dezena de anos depois a questão se resolverá quando o Mercado Municipal já está em construção e em que será atribuída àqueles arrendatários uma loja do novo edifício, mudando para aí o seu negócio. Após o terreno ficar livre foram feitos vários projectos mas a obra nunca arrancou. Apenas com a Dra. Fátima Ramos se fará o projecto final e a praça ganhará o figurino que ostenta actualmente.

Largo e Praça da Feira dos Bois

Delimitado pela EN 342 (Sul)

Local onde se realizava o mercado de venda de animais vivos, quando a feira semanal se espalhava pelas várias artérias da vila, antes de se vir a centrar na actual Praça José Falcão.

Enquanto a feira se realizava na Praça José Falcão, o mercado do peixe era na Feira da Sardinha e havia esta Feira dos Bois onde se transaccionavam os animais. Aqui também se situava o Matadouro. Os matadouros industriais foram criados fruto das novas exigências sanitárias pós 25 de Abril, uns de iniciativa pública, outros particular. No caso privado temos em Miranda o caso da empresa “Gracarnes” que evolui de um pequeno talho situado na Feira da Sardinha, propriedade do Sr. Júlio Grade, que depois vai criar o matadouro que actualmente existe. Assim, e também fruto das novas exigências pela nossa entrada na CEE, estes matadouros municipais acabam por encerrar acontecendo o mesmo ao nosso, localizado nesta praça.

Após encerrar, ele irá acolher a primeira iniciativa que a A.D.F.P. terá em Miranda e que foi um curso de formação profissional na área do artesanato para deficientes em 1987, tendo a Câmara Municipal presidida pelo Dr. Jaime Ramos emprestado o matadouro à “Associação” com esse propósito. Este curso foi apoiado ainda pela colaboração do Sr. Carlos Torres e do Prof. Aires Caetano. O Sr. Carlos Torres foi também vereador da Câmara no período de 1980 a 1983. Foi ainda Director do Lar de Jovens do Convento de Semide, antes de existir o Cearte e a Cáritas, quando aquele estava nas mãos da Assembleia Distrital. O Prof. Aires Caetano esteve na direcção da ARCIL da Lousã, vindo a ser um dos fundadores da ADFP.

O matadouro, após a A.D.F.P. arranjar instalações e o abandonar, entra numa fase de degradação até há bem pouco tempo, já na presidência da Dra. Fátima Ramos em que se procede à sua demolição, à construção do Centro Infantil e ao arranjo da praça circundante.

Importa aqui salientar que Miranda não tem grandes edifícios históricos, a arquitectura é aqui algo pobre e, ultimamente, na presidência da Dra. Fátima Ramos, tem-se tentado alterar um pouco este aspecto através de projectos urbanísticos como a Praça da Cruz Branca e a colocação de estátuas em pontos sensíveis como praças e rotundas.

Assim, na Rua da Zona Industrial existe uma escultura relativa ao Trabalho, da autoria do escultor Fernando Martins; na Praça da Cruz Branca há uma outra de homenagem à Mulher, do escultor Camarro; aqui na rotunda próxima da Feira dos Bois existe a estátua relativa à Liberdade, de Armando Martinez, inaugurada pelo anterior Presidente da República, Dr. Jorge Sampaio. Este escultor galego, que também fez algumas obras para Coimbra e Montemor, esculpiu ainda a estátua feminina que está à entrada da A.D.F.P.. São dele igualmente as estátuas de homenagem à Chanfana e ao Viveirista que estão em Semide.

Largo da Fonte dos Amores (ou largo do Chafariz)

Delimitado pela Rua Combatentes da Grande Guerra (Oeste)

e Rua Mário de Almeida (Este)

O nome advém-lhe do fontanário que a centra, antigo local de encontro de apaixonados que aí vinham matar a sua “sede”. O fontanário ou chafariz encontrava-se antes no Largo Serpa Pinto (actual Praça José Falcão), tendo sido dali retirado aquando da construção do edifício da Câmara; foi reconstruído e colocado no actual recinto em 1915.

O aspecto que hoje ostenta deve-se às obras feitas na presidência do Sr. Jorge Cosme. Ultimamente, na presidência da Dra. Fátima Ramos, foi alvo de obras de calcetamento no âmbito do GTL.

Diz-se que quando alguém chegava a Miranda e bebia água da Fonte dos Amores, ficava cá e não mais abandonava a vila. Na Escadaria da Fonte dos Amores, no sentido para a Biblioteca Miguel Torga, devemos fazer referência ao Dr. Jaime Ilharco que teve um consultório nesta travessa, na casa grande que se desenvolve à esquerda. O Dr. Ilharco virá a ser Director do Centro de Saúde e Delegado de Saúde, aqui a substituir o Dr. Serrano. Nesta casa também viveu o Sr. Wilson Paulo, irmão do Prof. Augusto Paulo e um homem interessante pela sua acção cultural tendo, inclusive, publicados dois livros.

Foi nesta casa do Sr. Wilson Paulo, a primeira sede do “Mirante”, jornal nascido em 1978 e cujo primeiro director foi o Dr. Jaime Ramos e o proprietário o Prof. Augusto Paulo. Havia um ficheiro de moradas, as direcções eram escritas à mão e os jornais enviados para casa das pessoas, enfim, tudo feito de uma forma muito primária, mas eficiente.

Falar do salão de barbearia de Jaime Ricardo implica referir também o salão de cabeleireiro da “Carmelita” que marca aquela zona e, ao fundo da rua, da barbearia do Sr. Renato Figueiredo, uma das pessoas mais celebres de Miranda conhecida, sobretudo, pela sua gaguez. Por baixo do prédio da Carmelita havia um supermercado de um fundador do PSD, o Sr. Durão Bastos, pai da Sra. Leonor Bastos Simões, e que passou depois para a Sra. Isabel.

Ao lado havia um talho do Sr. Bento. Onde hoje se localiza o “Caniço”, havia um antigo estabelecimento do Sr. Humberto: tratava-se de uma mercearia que fazia as delícias das crianças da escola que, quando tinham um tostãozito, lá iam comprar umas rifas que existiam que continham um rebuçado e um cromo de um jogador de futebol. Este estabelecimento terá depois continuidade, nessa rua, com a mãe do Sr. Jorge Cosme, imediatamente antes da casa onde viveu o Dr. Fausto Lobo.

Largo Manuel Pereira Batalhão

Outeiro

Delimitado pela Rua do Cruzeiro (Norte)

e Rua Mário Almeida (Sul)

Manuel Pereira Batalhão foi comerciante com habitação e loja na rua que, actualmente, ostenta o nome deste antigo republicano, de família com alguma tradição na vila e conhecido amigo de Belisário Pimenta.

Também nessa rua existiu em tempos uma Estalagem (no imóvel da antiga Barbearia), pois a zona era local de chegada de carruagens de passageiros e mercadorias, fruto da sua localização, sensível, no cruzamento das rotas que vinham de Condeixa com as vindas de Sul.

«Resultante da confluência de três arruamentos (Rua dos Combatentes da Grande Guerra, Rua Dr. Mário de Almeida e Rua da Sra. da Conceição) e ladeada ainda pela Rua do Cruzeiro, surge-nos este espaço de magra dimensão que se foi formando a partir de sucessivas modificações das habitações que o rodeiam. À actual configuração deste Largo, ajudou também a abertura da Estrada Distrital nº108, actual E.N. 342. (...) No ano de 1839, a Câmara então presidida por António Pedro da Silva Basto nomeou para boticário do partido da Vila de Miranda, Manuel Rodrigues Baptista, ao tempo Alferes da Guarda Nacional e, que tinha sido no ano antecedente vereador da Câmara. Este Manuel Rodrigues aceitou o cargo e passou a exercê-lo na sua botica de que ainda hoje as pessoas idosas da Vila se lembram: era ao Outeiro numa casa fronteira ao Largo da Sra. da Boa Morte; subia-se para ela por uma escada exterior, redonda, de uns três degraus – coisas que desaparecem com a abertura da Estrada distrital nº108.

(…)

Da análise deste pormenor (...) concluímos que há sensivelmente um século, atrás, o limite urbano da Vila era muito mais reduzido já que a zona onde se explorava o comércio tradicional era ainda predominantemente aqui à volta do que poderemos chamar a parte velha deste pequeno burgo. Só mais tarde essas actividades foram procurando horizontes mais amplos e assentaram arraiais na baixa Mirandense.

Ali existiu também, sensivelmente no local hoje ocupado pelo snack-bar «CANIÇO», uma estação de diligências e o respectivo posto de trocas de cavalos, propriedade do Sr. José Dias Moita, tio do nosso conterrâneo Sr. José Maria Moita. As diligências, de passagem por Miranda em viagens de transporte de passageiros, mercadorias, correio, etc., ali mudavam os animais cansados por outros já refeitos do cansaço a que tinham sido submetidos em viagens anteriores.

Com o declínio desta actividade a estação de diligências foi reconstruída e adaptada a outros fins. Nessas novas instalações funcionou o Centro Republicano da Vila, no tempo da primeira República, colectividade vocacionada à divulgação dos ideais republicanos e subsidiariamente ao entretenimento das gentes do burgo, incluindo também funções didácticas nomeadamente o ensino da arte musical.

Nessa casa estava já afixada uma placa toponímica onde constava inscrição igual à que hoje ali figura, mas que desapareceu aquando das obras que deram a esse imóvel a fisionomia actual. Recentemente foi oposta no mesmo local nova placa toponímica em substituição da anterior, facto a que não foi alheio o interesse de alguns Mirandenses desejosos de que fosse perpetuada a tradição.

Defronte, no local ocupado pela Barbearia «JOTARRICAR», do popular Jaime Miranda Ricardo e, onde o Sr. J. Maria Moita explorou igual actividade desde cerca de 1930 até há anos atrás, funcionaram no início deste século os serviços do registo Civil da Vila sendo Conservador o Dr. Henrique de Carvalho, pai de Henrique de Carvalho, o célebre «Bochechas» de quem a maioria dos Mirandenses se recorda como uma figura que a partir de dado momento da sua vida começou a evidenciar leves sinais de demência.

O espaço ocupado pelo Registo Civil bem como a parte restante desse imóvel, funcionou o que hoje chamamos uma unidade hoteleira. Usou o nome de «Estalagem Moderna» a qual, na época, e atendendo a que estava inserida num meio rural, podia já considerar-se de capacidade razoável. Foi explorada pelo Sr. Manuel Pereira Batalhão o qual era igualmente proprietário dum estanque de tabacos que à data existia na casa que forma gaveto entre a Rua da Sra. da Conceição e a Rua dos Combatentes da Grande Guerra. (...)

Assim, justifica-se sem dúvida que a Edilidade Mirandense tenha atribuído a este recanto da Vila o nome do republicano fervoroso que foi Manuel Pereira Batalhão, dado que a sua vida pública está intimamente ligada a actividades desenvolvidas neste Largo. Sobre a genealogia dos «Batalhões» fez Belisário Pimenta variadas investigações cujo produto publicou de Setembro de 1924 a Janeiro de 1925, no jornal «Alma Nova» da Lousã.

Segundo esse trabalho, aquele historiador, recuando em linha recta na ascendência de Manuel Pereira Batalhão, chegou até um seu avoengo de nome Manuel Lopes, nascido na Vila no ano de 1684 e aqui falecido em 1753 com 69 anos de idade, depois de nesta terra ter exercido alguns cargos de destaque. Foi Manuel Lopes o primeiro membro desta família a usar o apelido de «Batalhão» apelido que aliás não lhe vinha do berço já que só em 1717 o utilizou pela primeira vez no assento de baptismo de um seu filho, pelo que a sua proveniência é hoje difícil de esclarecer.» (RODRIGUES, Armindo, Toponímia Mirandense – subsídios para a sua história, jornal “Mirante”, nº 129, Miranda do Corvo, 1988).

Referência ao último elemento mais celebre da família Batalhão e que é o Eng. Pedro Batalhão, conhecida figura da vila, empresário, ex-vice-presidente da Câmara, e que faz parte da sociedade do “Bar Pixolim”.

Largo Tenente Romãozinho

Delimitado pela Rua José Falcão (Este)

Administrador do concelho, natural de Castelo Branco e que desenvolveu a sua actividade neste concelho na primeira metade do séc. XX.

Praça da Feira da Sardinha

Delimitada pelo Largo Tenente Romãozinho (Nordeste)

«Quando a feira semanal se realizava na actual praça José Falcão, facto que aconteceu até ao ano de 1982, o mercado do peixe cingia-se a este lugar à beira rio. O peixe – sobretudo a sardinha - trazido principalmente a partir da lota da Figueira da Foz foi sempre um produto grandemente procurado, principalmente porque antes o seu preço era consideravelmente mais baixo que o da carne. Inclusivamente havia todo um comércio paralelo feito por pequenos comerciantes que acorriam a esta praça com burros de carga abastecer-se de sardinha em quantidade procedendo posteriormente à sua revenda pelas serras mais afastadas do concelho. Igualmente mulheres mirandenses se dedicaram à revenda da sardinha ao domicilio nos outros dias da semana em que não havia mercado de caixa à cabeça e soando pregões.» Armindo Rodrigues, em cujos escritos nos estamos a apoiar (RODRIGUES, Armindo, Toponímia Mirandense – subsídios para a sua história, jornal “Mirante”, nº 125, Miranda do Corvo, 1988), acresce que aqui funcionou também o Talho Municipal. Este mesmo autor refere-se ainda à Casa do Teatro ali situada: «No topo poente, um portal de verga em arco, dá acesso a um edifício hoje abandonado mas que durante alguns anos funcionou como Teatro. É uma casa que pelas suas dimensões e porque situada num plano superior à Praça, domina de certa forma o local. Uma abertura alta «gradada» e uma série de pequenos óculos laterais são pormenores a reter». Nos anos 30 funcionou aqui um grupo de teatro amador dinamizado sobretudo por José Ferreira, Lucinda Quintas e José Camilo Bastos.

Na Rua do Buraco permanece ainda uma casa de fachada imponente como foi descrita por Virgílio Correia no Inventário Artístico – Distrito de Coimbra. Possui abertura de vergas direitas e cornijas podendo ser datável da centúria de seiscentos, possivelmente ligada à nobreza concelhia. Augusto Paulo recorda que: «Foi nesta casa, também chamada o “Lar dos Ritas” que a antiga filarmónica teve a sua sede. Segundo o Sr. José Maria Moita, a Filarmónica extinguiu-se por volta de 1920, devido a uma zaragata que originou a prisão de alguns dos seus elementos.

Esta zaragata aconteceu no regresso de uma festa da Senhora do Pranto por motivo da rivalidade que existia entre alguns dos seus elementos e os da Filarmónica da Lousã. Por essa razão a filarmónica viu-se obrigada a interromper a sua actividade o que originou a sua extinção. O Sr. Moita ainda se recorda do boné que era um tipo de capacete azul com uma barra vermelha e com um penacho branco.» (RODRIGUES, Armindo, Toponímia Mirandense – subsídios para a sua história, jornal “Mirante”, nº 125, Miranda do Corvo, 1988)

Naquele edifício recuperado segundo a traça original, funciona agora um local de convívio e diversão chamado “Bar Pixolim”, fruto de uma iniciativa do Eng. Pedro Batalhão juntamente com o Sr. José Maria Silva; o Dr. Carlos Marta e o Sr. Horácio Raposo. Este local apelida-se de teatro-café fruto certamente da herança legada pelo movimento que aquele local conheceu nos anos 30 do século passado.

Praça da Liberdade

Delimitada pela Rua Dr. Fausto Lobo (Sul)

A ideia de fazer a Praça da Liberdade e as ruas que lhe estão adstritas nasce na presidência do Dr. Jaime Ramos. Os terrenos assentam numa zona que era conhecida como a “Pedregueira”, onde existia um pequeno bosque com castanheiros e espinheiros. A outra parte do terreno foi comprada à família Ferrer para se obter a área total necessária à prossecução do projecto. A ideia inicial era a de abrir a nova rua na continuação da Rua Dr. Rosa Falcão.

No entanto porque a família Ferrer tinha bastante interesse em ficar com alguma área junto à casa e porque ali existiam algumas espécies botânicas interessantes, como uns pinheiros antigos e algumas plantas ornamentais, alguns deles que não eram da flora tradicional daqui e que tinham vindo de fora, à casa ficou então adstrito um pequeno quintal. Por tal facto a rua tem o formato actual na continuação da Rua da Mata. Todo o projecto para a Praça da Liberdade, incluindo mercado e espaço da feira, é feito mantendo todas as árvores existentes. Por isso alguns lancis fazem algumas pequenas curvas. Tal facto também já havia sido prioritário nas obras de requalificação da Praça José Falcão.

O projecto da Praça da Liberdade é pensado por Jaime Ramos e a sua equipa no sentido de que não representasse um custo para a Câmara. Através da venda das lojas periféricas, tentar conseguir recuperar o total do investimento feito na estrutura completa. Este investimento com novas lojas e novos espaços comerciais representou de certa forma em Miranda uma nova centralidade em termos económicos e comerciais.

Praceta Levy Maria Jordão

Delimitada pela Rua de Sta. Catarina (Sul)

O Barão Levy Maria Jordão, possivelmente de origem judaica, foi Visconde de Paiva Manso por decreto de 13 de Outubro de 1869. Era filho de Abel Maria Jordão de Paiva Manso. Foi o 1º Barão de Paiva Manso, descendente da família que habitava na Tróia. É o autor da primeira reforma penal profunda, em Portugal, da qual saiu o Código Penal.

Praceta Luís de Camões

Antigos Quintais

Delimitada pela Rua Belisário Pimenta (Noroeste)

O projecto nasce quando o Eng. Simões Pereira era Presidente da Câmara. É depois redefinido quando Jaime Ramos chega à Câmara, porque aquele implicava uma exagerada construção em altura. Na época não se conseguiu romper a rua até esta dar acesso à Rua Dr. Rosa Falcão porque existia uma pequena serração do Sr. Manuel, já falecido, e do Sr. Humberto “do Juvenal” que estava ainda a laborar, e assim ficou a obra por concluir. Situação que se mantêm ainda, apesar da serração já não existir.

A Câmara decidiu, na altura, comprar os terrenos um pouco à ideia do que tinha feito para a Quinta do Viso ou para o Bairro Sá Carneiro. Esta era uma zona de pequenos quintais que a Câmara pretendeu adquirir para fazer o seu loteamento e posterior venda, tentando mais uma vez dinamizar o mercado de construção e a aposta em Miranda. A compra destes terrenos foi extremamente litigiosa para a Câmara. As pessoas não os queriam ceder por razões afectivas e alegando que a Câmara não estava a pagar o preço justo por eles. Um dos proprietários mais enérgicos neste diferendo com a Câmara foi o Sr. António Marreco.

Este diferendo foi vivido tão apaixonantemente em Miranda que ficou conhecido como a “Guerra das Malvinas”, uma vez que na altura se vivia, a nível mundial, o diferendo sobre estas ilhas, entre a Argentina e a Inglaterra. Assim alguns indivíduos mais humorados de Miranda, ligados sobretudo à esquerda como o Sr. José António ou o Sr. Marta, chamaram àquele loteamento, até ele ter um nome, as “Malvinas”.

A Câmara após fazer essa operação decidiu vender todos os lotes em hasta pública, dando direito de preferência aos antigos proprietários dos quintais, caso quisessem. No entanto, fruto da crise económica que então grassava, os terrenos acabaram por ser adquiridos, todos eles, pela mesma pessoa, o Sr. Belmiro que avança com o processo. A Câmara da altura reserva um lote para si com o intuito de ali criar um Cine-teatro ou um Tribunal, se Miranda conseguisse trazer para cá a Comarca. No tempo da presidência do Sr. Jorge Cosme abandonou-se a ideia e o lote foi vendido, também para construção, à empresa “Construções Dueça”. Curiosamente, apesar do lote não ter tido o destino para o qual estava escolhido, já na presidência da Dra. Fátima Ramos, o rés-do-chão daquele mesmo lote verá ser aí implantado o Julgado de Paz.

Esta praceta congrega, em termos da vila, alguns serviços bastante importantes: os Serviços de Notariado; o Registo Civil; a Conservatória e o Banco Santander Totta, antigo Banco Totta & Açores. Miranda chegou ao 25 de Abril, na opinião do Dr. Jaime Ramos, talvez como o concelho mais atrasado desta região. A título de exemplo, todos os concelhos à volta tinham hospital concelhio, Casa da Criança ou Infantário na sua maioria. Na Lousã havia escolas, bancos, cine-teatro; até o Espinhal tinha a Casa do Povo; Penela tinha um mercado do peixe coberto ou a sede do Penelense.

O Banco Totta & Açores é o primeiro banco a ser instalado em Miranda, originalmente na esquina da Rua Belisário Pimenta com a Rua Dr. Rosa Falcão, onde actualmente é o pronto-a-vestir “Trovão”. Ao lado havia um dos lagares mais importantes da vila pertença da família Baeta, junto à antiga Padaria Flor, fundada pelo Sr. Mário Paulo, actual Pizaria Alhêda, do Sr. Edmundo. O Sr. Mário Paulo é também uma personagem importante de Miranda. Numa determinada fase da sua vida trabalhou muito ligado à Igreja na companhia do Sr. Fausto Branco, numa altura em que aquela combatia a fome das populações através da distribuição de manteiga e leite em pó. O Banco Totta & Açores passará depois para o local onde está actualmente naquele que foi o primeiro prédio a ali ser construído pelo Sr. Belmiro. Esta sede foi inaugurada com a presença do primeiro-ministro da altura, o Dr. Mário Soares.

Em frente à Padaria Flor existe a casa da família Campos, conhecida como a “Casa do Jardim” que albergava uma das mercearias mais importantes da altura, pertença do Sr. José Campos, um homem que foi vereador durante muitos anos com Francisco Martins, tendo chegado mesmo, durante um curto período, a ser Presidente de Câmara. Em frente a este estabelecimento houve também um outro muito importante fundado pelo pai do Sr. Prof. Augusto Paulo e que teve continuidade depois pelas irmãs deste.

Para se ter uma ideia da evolução da vila, ao nível dos serviços, Jaime Ramos informa-nos que, por exemplo, quando chega à Câmara esta só ocupava o 1º andar do actual edifício, estando o rés-do-chão reservado ao Serviço de Finanças, à Tesouraria de Finanças e ao Registo Civil e Notarial. Neste rés-do-chão da Câmara chegou ainda a estar alojada a Delegação Escolar. Tentou-se e conseguiu-se que a área pudesse ficar disponível apenas para a Câmara e que as Finanças, por um lado, viessem a alugar as instalações que actualmente têm na Avenida Pe. Américo e que os Serviços de Notariado transitassem para a Praceta Luís de Camões.

Estas saídas permitiram que a Câmara fizesse o projecto de remodelação dos Paços do Concelho, que hoje existe, mudando as instalações provisoriamente para o prédio em frente ao Banco Totta & Açores. O edifício foi depois concluído e inaugurado em 1990 já quando Jaime Ramos era Governador Civil e era Presidente de Câmara o Dr. José Lopes.

Rua 25 de Abril

Delimitada pela Avenida Pe. Américo (Este)

e Rua Dr. Fausto Lobo (Sudoeste)

Revolução que, em 1974, derrubou o regime autoritário concebido por Salazar e, na época, conduzido por Marcello Caetano, pondo fim a quarenta e oito anos de ditadura e abrindo o caminho para a democracia em Portugal.

Apesar do seu carácter fechado e repressivo, o regime corporativo fora profundamente afectado pela década de 1960. Depois da campanha oposicionista do general Humberto Delgado (assassinado pela polícia política em 1965), a contestação social e política atingira níveis nunca vistos, ultrapassando os círculos intelectuais e alastrando aos meios operários e ao movimento estudantil. À medida que se avançava na década, a Guerra Colonial entretanto iniciada (1961) tornava-se o alvo especial da oposição - consumia os esforços e as vidas do país e revelava-se como um combate longo, sangrento e inútil.

Entretanto, aumentara a pressão externa contra Salazar. O afastamento deste último e a liberalização que se lhe seguiu, liderada por Marcello Caetano, não pôs fim ao problema da guerra, acabando mesmo, na óptica do governo, por se revelar prejudicial à sua condução. Enquanto a pressão à sua volta crescia, o regime voltava a fechar-se, entrando nos anos 70 sem perspectivas de se modificar.

A solução acabou por vir do lado de quem fazia a guerra: os militares. No ano de 1973, um dos mais mortíferos da Guerra Colonial, nascia uma conspiração de oficiais de patente intermédia, descontentes com a duração e as condições do conflito. Começava o «Movimento dos Capitães», depois designado por Movimento das Forças Armadas (MFA). Este movimento politizou-se rapidamente, concluindo pela inevitabilidade do derrube do regime em Portugal para se poder chegar à paz em África.

Depois de um golpe falhado nas Caldas da Rainha (16 de Março), em que não teve intervenção, o MFA decidiu avançar: o major Otelo Saraiva de Carvalho elaborou o plano militar e, na madrugada de 25 de Abril, a operação «Fim-regime» tomou conta dos pontos estratégicos da cidade de Lisboa, em especial do aeroporto, da rádio e da televisão.

Lideradas pelo capitão Salgueiro Maia, as forças revoltosas cercaram e tomaram o quartel do Carmo, onde se refugiara o chefe do governo, Marcello Caetano. Rapidamente, o golpe de Estado militar foi aclamado nas ruas pela população portuguesa, cansada da guerra e da ditadura, transformando-se o movimento numa imensa explosão social e numa revolução pacífica, que ficou conhecida no estrangeiro como a «Revolução dos Cravos».

Certamente que em Miranda, como em outros lugares, se fizeram sentir as limitações à liberdade do regime fascista e igualmente aqui se terá conspirado em silêncio para o seu derrube. Após a vitória, perpetuou-se tal momento deixando a sua recordação através da toponímia.

Em frente à Praça da Cruz Branca existe o Centro de Saúde. Miranda não tinha hospital concelhio. Este projecto é iniciado no 25 de Abril com o Eng. Simões Pereira, terminado com o Dr. Jaime Ramos e inaugurado sendo primeiro-ministro o Dr. Pinto Balsemão, com a presença do Embaixador dos Estados Unidos da América. A seguir ao 25 de Abril os americanos ajudaram a construir várias obras deste género no país. Este centro será construído com o dinheiro americano, com ajuda directa, através da sua Embaixada ainda antes de existir a Fundação Luso-Americana promovida pelo Dr. Rui Machete. No discurso proferido na altura, o Dr. Jaime Ramos prometeu que a praça em frente se chamaria Praça Estados Unidos da América, ideia que depois não prevaleceu.

Nesta rua existe também a Casa do Povo, o Pavilhão Gimnodesportivo e os estaleiros da Câmara. Estes últimos foram construídos quando Jaime Ramos era Presidente da Câmara, pela necessidade de ter um local para aquele tipo de equipamentos. Apesar de todo o atraso patente, Miranda foi dos primeiros locais a ter um bom Pavilhão Gimnodesportivo.

A primeira Casa do Povo em Miranda nasce tendo como presidente o Sr. Henrique Mesquita, que ainda antes do 25 de Abril cria um serviço de Casa do Povo ligado à Segurança Social. A seguir ao 25 de Abril será presidente da Casa do Povo o Sr. Damião Costa estando na Câmara o Dr. Jaime Ramos e quando é pensado levar em frente a construção, tanto do imóvel dos serviços administrativos como do próprio Pavilhão.

Na altura como o Dr. Jaime Ramos era também deputado contou com a ajuda da Dra. Graça Vitorino que estava à frente da Junta Central das Casas do povo, esposa do ex-presidente da Câmara de Faro, José Vitorino, que conseguiu que se desbloqueassem as verbas necessárias ao avanço do projecto. O Pavilhão contou ainda com a comparticipação da Casa do Povo, da Câmara Municipal e da Junta Central. Logo a seguir, a Câmara tomou a iniciativa de construir o campo de ténis existente atrás do Pavilhão, que se encontra algo degradado, mas que foi um dos primeiros campos de ténis em todo o distrito.

A maioria das ruas novas é, pois, feita nos anos 80 e início dos anos 90. Os terrenos são comprados, as ruas terraplanadas e alcatroadas, algumas com água e saneamento mas, em todo o caso, sem grandes características urbanas que só lhe são conferidas agora nestes últimos anos com a construção de passeios e outras melhorias, já na presidência da Dra. Fátima Ramos, que lhe conferem um aspecto mais citadino.

Rua do Alto dos Barreiros

Delimitada pela Rua da Filarmónica (Norte)

Aqui está localizado o pavilhão gimnodesportivo que dá apoio ás escolas e que foi inaugurado na presidência de Câmara do Sr. Jorge Cosme.

Existiu também aqui nesta rua uma antiga fábrica ligada ao barro vermelho, cuja demolição da antiga torre deu alguma polémica há alguns anos atrás. Era, juntamente com a Cerâmica Mirandense, a única existente dentro do aro da vila, mas esta muito mais antiga. Depois, já fora do aro, existiu nos Bujos a antiga cerâmica de José Pedro & Filhos, o conhecido “Zé da Laura”.

Rua Arménio da Costa Simões

Antigo Ramalhão

Delimitada pela Rua do Cruzeiro (Sudoeste)

Filho de António Simões e de Camila Jesus Costa, Arménio da Costa Simões foi casado com Lucília de Jesus Fernandes, união de que resultaram dois filhos: António Manuel Fernandes Simões e Emídio Fernandes Simões.

Este ilustre mirandense nasceu a 6 de Abril de 1928 e faleceu no dia 19 de Julho de 1970, um período curto de vida para alguém que desenvolveu uma intensa actividade profissional em prol da sua terra.

Começou por ser comerciante tendo com o pai e com o irmão criado uma loja de mercearias e ferragens. Foi só mais tarde, em 1955, que avançou para a criação da “Cerâmica Mirandense”, unidade industrial dedicada ao fabrico de telhas e tijolos na sua fase inicial. A cerâmica situada no coração da vila de Miranda do Corvo empregava inúmeras pessoas contribuindo para a sustentabilidade económica desta vila do interior nos difíceis anos da segunda metade do século passado.

Quando o industrial faleceu já fabricavam vigotas pré-esforçadas. Instalou ainda os “Pavimentos Beira”, unidade de fabrico semi-automática, mas infelizmente o incansável Arménio da Costa Simões já não viu funcionar a unidade de vigotas pré-esforçadas completamente automatizada.

Esta avenida adquiriu o aspecto actual na época do presidente Francisco Martins. O nome que ostenta actualmente foi-lhe atribuído quando o Dr. Jaime Ramos era presidente da Câmara. Existiram aqui vários estabelecimentos interessantes: o Sr. Frutuoso que era pai do Sr. Eduardo Fachada e avô da Dra. Graça Fachada, possuiu um estabelecimento na curva do Ramalhão.

Em frente houve um lagar importante cuja última família proprietária foi a família Borges, ligada ao comércio de bois e oriunda de Vale de Neira, Lousã. Houve depois uma loja de recauchutagem de pneus no mesmo local. Mais á frente existiu o estabelecimento do Sr. Manuel “Pita”: uma taberna e loja de petiscos. A curiosidade deste estabelecimento advêm do facto de que foi o primeiro local em Miranda em que se começou a assar leitão. Na mesma rua também o “Zé Padeiro” continua o sucesso deste produto. Em frente existiu um outro estabelecimento comercial de sucesso, pertencente à família Cardoso, no ramo das sapatarias e mobiliário. Ao lado existiu uma tipografia que imprimiu o “Mirante”.

O “Mirante” foi impresso pela primeira vez numa tipografia pertencente ao Sr. Marques, da Granja de Semide e sócios, e que existiu no cruzamento da Rua João Paulo II com a Rua Dr. Clemente de Carvalho, até há pouco uma loja de materiais de construção pertença do Sr. Lídio Ferreira e filhos. Quando introduziram o “offset” e largaram o chumbo, mudaram então para onde é actualmente a pastelaria “Rubiana”. Aqui se dá um pequeno salto qualitativo no “Mirante” com a passagem para o “offset”.

Ainda nesta rua, os estabelecimentos mais importantes foram pertença da família Costa Simões: bombas de gasolina; a primeira loja de ferragens e a antiga fábrica de tijolo e pré-fabricados, razão da escolha do nome da rua a esse grande empreendedor que foi Arménio da Costa Simões. Os empregados da loja de ferragens acabarão por criar depois a “Miranferragens”.

Rua da Associação

Delimitada pela Praça da Liberdade (Sul)

A Associação para o Desenvolvimento e Formação Profissional de Miranda do Corvo (A.D.F.P.), nasceu de uma iniciativa na área da Formação Profissional para Deficientes do Presidente da Câmara Municipal de Miranda do Corvo, Dr. Jaime Ramos na qual contou com o apoio organizacional, executivo e pedagógico, respectivamente, da Associação para a Recuperação de Cidadãos Inadaptados da Lousã (ARCIL), de Carlos Torres das Neves e Aires Caetano.

A escritura de constituição teve lugar em 6 de Novembro de 1987 e os primeiros Corpos Gerentes foram eleitos a 27 do mesmo mês. É uma I.P.S.S. (Instituição Privada de Solidariedade Social), sem fins lucrativos, desde Setembro de 1989, reconhecida como de Utilidade Pública e com Sede em Miranda do Corvo. Possui valências sociais no Concelho de Miranda e na cidade de Coimbra e serviços culturais – Biblioteca Itinerante, em vários municípios (Miranda, Penela, Lousã, Gois, Penacova e Coimbra) e cerca de 2.000 sócios. Serão cerca de 3.400, as pessoas que com regularidade utilizam os seus serviços. Este conjunto integra as 200 pessoas (idosos, deficientes, doentes crónicos, mulheres mal tratadas e crianças) que vivem nas residências.

A A.D.F.P. tem como principal objectivo apoiar deficientes, doentes crónicos e inadaptados, crianças, jovens e idosos pelo propósito de dar expressão ao dever de solidariedade entre as pessoas, bem como pela completa integração do indivíduo na sociedade, com uma filosofia de inclusão social. Não é um “gueto” de pessoas com carências. Possui valências sociais, serviços de saúde, secções culturais, recreativas e desportivas. Nestas, salienta-se um Clube da Mulher, uma Associação Juvenil (AJA), um Departamento Cultural com Biblioteca, com trinta mil livros, secções de columbofilia, atletismo, centro hípico, ginásio e health club com piscina aquecida.

Possui um cinema e estão a iniciar a construção de um museu onde se procurará preservar os valores patrimoniais e culturais, nomeadamente o artesanato regional.

Numa lógica de desenvolvimento regional, para criar riqueza, postos de trabalho e combate à pobreza, tem desenvolvido trabalho na área da habitação, com criação de um pequeno bairro, e está a desenvolver um projecto no sector do turismo. O seu objectivo último visa promover a qualidade de vida (física, psíquica, económica e social) de vários grupos sociais – crianças, jovens, adultos desfavorecidos, deficientes, doentes e idosos. Os princípios de integração e de combate à exclusão traduzem-se na existência de um leque variado de valências de acção social, formativa e educativa: regime de externato, regime Porta a Porta e regime Residencial.

Rua Belisário Pimenta

Antigo Areal e zona da Levada

Delimitada pela Rua Dr. Rosa Falcão (Sudoeste)

e Rua D. Afonso Henriques (Nordeste)

Belisário Maria Bustorf da Silva Pinto Pimenta, nasceu em Coimbra aos 3 de Outubro de 1879 no 2º andar do prédio nº11 da Praça Velha. Frequentou o colégio externato do padre Ricardo Simões dos Reis, na Avenida Sá da Bandeira, e depois transitou para o Liceu, que estava instalado no edifício de São Bento. Tinha 14 anos de idade quando começou a formar a sua biblioteca pessoal, que ultrapassava, no momento do seu falecimento, oito mil obras. Seguiu depois a carreira militar ingressando como cadete na Escola Prática de Infantaria de Mafra.

Casou em 1908 com Amélia Possidónio da Silva de cujo matrimónio nasceu a sua única filha, Maria Helena. Em 1903 foi promovido a alferes e em 1910 passou a ser Comissário da Polícia em Coimbra. A sua vida militar decorreu ainda por Valença, Portalegre, Castelo Branco, Lagos, Porto, Penafiel, Abrantes e Leiria. No ano de 1913 publica o seu primeiro artigo sobre um tema histórico “O Combate de 24 de Julho de 1828 na Cruz de Morouços”. Neste mesmo ano, publicou também o seu primeiro trabalho sobre Miranda do Corvo, tema que foi uma das suas predilecções e que cultivou até ao fim da vida. Os acontecimentos políticos de 1926 determinaram, por alguns anos, o seu afastamento do serviço activo, o que acarretou vários dissabores e prejuízos financeiros. Teve, no entanto, a compensação de poder dispor de mais tempo para os seus trabalhos de investigação, nomeadamente sobre a nossa vila.

Privou com figuras ilustres da cultura dos séculos XIX e XX como sejam Eugénio de Castro, António Nobre, António José de Almeida, Vitorino Nemésio, António Nogueira Gonçalves ou Álvaro Viana de Lemos. Possuía como condecorações a medalha de ouro de comportamento exemplar e era grande-oficial da Ordem Militar de Avis. Às 17 horas do dia 11 de Novembro de 1969, no n.º 41 da Rua de Santo Amaro, à Estrela, em Lisboa, após uma nevrite, falecia Belisário Pimenta.

«Este arruamento inicia-se junto da Ponte do Meio, no final da Rua Dr. Rosa Falcão e estendendo-se paralelo ao rio Alhêda, pela retaguarda dos Paços do Concelho, vai entroncar na Rua D. Afonso Henriques junto à Ponte de Cima. A ponte sobre o Alhêda, ainda hoje conhecida por Ponte do Meio, era no final do séc. XIX, chamada Ponte de Cima. Com a abertura da estrada para Tomar foi construída outra ponte que o povo chamou durante anos «Ponte da estrada nova».

(…) Trata-se de uma área recuperada ao rio quando foi construído o paredão na margem esquerda em 1935, conhecida por Areal. Antes de ser construído, o rio corria caprichosamente através dele, ou seja entre o muro da margem direita e a levada que conduzia a água para fazer mover os moinhos e o lagar de azeite situados ao fundo da rua.

O terreno do Areal recuperado com a construção do paredão esteve subaproveitado sendo o estendal da roupa que provinha do lavadouro público que existia do lado esquerdo da levada. Servia também para acampamento de caravanas de ciganos e até para secar cereais. Por volta dos anos 60 a Câmara acordou com os proprietários da levada, os irmãos Baetas, na limitação da parte pública, tornando-se então um lugar de estacionamento de veículos que nos dias de feira (que se realizava em frente à Câmara) se deslocavam a Miranda. Só a partir de 1973 foi pedido o arranjo urbanístico e a construção dos dois pontões sobre o rio para a ligar à Avenida José Falcão. Este projecto só foi concretizado em 1978.

Deparamo-nos nesta rua com um imóvel de considerável dimensão, construído na década de 40, onde em tempos se produziu tapeçaria regional e alcatifas dando emprego a dezenas de pessoas maioritariamente do sexo feminino; referimo-nos à fábrica «Baetas Irmãos». Baeta era o nome dado a uma variedade de pano felpudo de lã. A família Baeta, proprietária da referida fábrica é oriunda do concelho da Castanheira de Pêra, zona com longa tradição no campo da indústria têxtil – produção de tecidos diversos, entre os quais as célebres Baetas, o Sr. José Alves Baeta, natural do Gondramaz, pai de Manuel Alves da Silva (Baeta) de Godinhela, foi comerciante ambulante de tecidos, além de possuir estabelecimentos de venda em Miranda, Espinhal e Vila Nova, onde residiu. (...)» (RODRIGUES, Armindo, Toponímia Mirandense – subsídios para a sua história, jornal Mirante, nº 121, Miranda do Corvo, 1988).

Rua Prof. Lídio Alves Gomes

Delimitada pela Rua Dr. Rosa Falcão (Este)

O Sr. Prof. Lídio Alves Gomes exerceu vários cargos na autarquia de Miranda do Corvo. Foi eleito Presidente à mesa para a eleição da Comissão Administrativa da Câmara Municipal, após o 25 de Abril. Foi eleito em 1976 como vereador e reeleito em 1979 e 1982. De 1982 a 1985 foi Vice-Presidente da Câmara e no mandato de 1985 a 1989 exerceu o cargo de presidente da Assembleia Municipal.

Lídio Alves Gomes foi um mirandense que sempre manifestou grande dedicação pelo interesse público, exercendo também vários cargos associativos, nomeadamente na Associação para o Desenvolvimento e Formação Profissional, Bombeiros Voluntários, Clube Atlético Mirandense e Centro Hípico.

Actualmente era Vice-Presidente da ADFP, da qual foi sócio fundador. Fazia também parte da direcção do jornal Mirante, da Dueçeira e foi confrade fundador da Real Confraria da Cabra Velha. Era residente em Vila Flor e foi professor na Escola Avelar Brotero de 1960 até à sua aposentação em 1997.

No exercício dos vários cargos sempre mostrou enorme empenho e dedicação aos outros. Exerceu-os sempre com um espírito alegre, competente e de forma totalmente gratuita. O seu espírito afável e cordial contagiava todos aqueles que tiveram o privilégio de com ele privar e o seu exemplo cívico perdurará certamente na memória de todos os mirandenses.

Para além de um dedicado dirigente autárquico e associativo, foi sem dúvida um grande ser humano que espalhava alegria por onde passava. Como forma de agradecimento a Câmara Municipal, por iniciativa da sua Presidente, Fátima Ramos, foi-lhe atribuída a Medalha Municipal de Dedicação Pública.

A importância desta rua decorre do facto de fazer o acesso às piscinas, ao infantário e centro infantil, à escola José Falcão e ainda ao pavilhão municipal. A escola José Falcão actual nasce numa evolução da antiga escola preparatória, fundada pelo ministro Veiga Simão, durante a presidência de Afonso Garcês e que foi instalada primeiro nas antigas escolas primárias, onde hoje está a Biblioteca Municipal Miguel Torga. Isto só foi possível porque anos antes, durante a presidência do Dr. Francisco Martins, tinham sido construídas as novas escolas primárias que permitiram que as antigas ficassem devolutas, facultando então aí a instalação da escola preparatória onde hoje está a biblioteca.

Esta escola só nasce com a reforma de Veiga Simão porque Miranda tinha um atraso bastante grande relativamente aos concelhos vizinhos que se nota em vários aspectos. Por exemplo, a Lousã tinha um colégio particular e tinha uma extensão da escola Avelar Brotero. Nós não tínhamos nada, só tínhamos ensino até à 4ª classe.

Esta escola sai depois do edifício das antigas escolas primárias, actual biblioteca, para os pavilhões pré-fabricados, durante a presidência do Eng. Simões Pereira, logo após o 25 de Abril. Acabou por ter depois algumas beneficiações, no qual se inclui a construção do pavilhão gimnodesportivo que lá existe hoje, feito não só para apoiar a escola mas também a população em geral, quando era presidente da Câmara o Sr. Jorge Cosme.

Afonso Garcês foi um homem extremamente importante para Miranda naquela altura. Ele marca uma mudança grande para a vila ainda antes do 25 de Abril. Sucede a Francisco Martins, ocupa a Câmara entre 1970 e 1974, altura em que é saneado. Fazia parte da equipa dele o Sr. Prof. Paulo e o Sr. Joaquim dos Santos, de Semide, ambos também saneados. Eles representavam, quando se dá o 25 de Abril, para a ideologia agora imposta, a Câmara fascista.

Afonso Garcês era um proprietário importante em termos de Miranda porque casou com a D. Cristina, filha de Conceição Bandeira e de um professor universitário regente da cadeira de Anatomia na Faculdade de Medicina, Prof. Egídio Aires. Estes eram proprietários de duas quintas importantes: a Quinta do Campo, no Montoiro e a Quinta da Paiva. Actualmente, após a demolição dos velhos pavilhões pré-fabricados, estamos a assistir ao nascimento da nova escola, no mesmo local, durante a presidência da Dra. Fátima Ramos.

Relativamente às piscinas, Miranda do Corvo foi o primeiro concelho do distrito, logo a seguir a Coimbra, a ter piscinas ao ar livre, construídas propositadamente para esse efeito, durante meados dos anos 80. Foram delineadas duas piscinas ao ar livre, mas já com um projecto para serem cobertas, durante a presidência de Câmara de Jaime Ramos. Foram inauguradas quando era primeiro-ministro o Dr. Mário Soares. Começou a ser feito o projecto da cobertura em 1989, mas entretanto Jaime Ramos é conduzido para o Governo Civil, ficando o Dr. José Lopes na Câmara a presidir e o projecto foi abandonado.

Nessa altura as piscinas eram propriedade do Atlético Clube Mirandense, isto porque a Câmara não podia ser comparticipada, pelo que passou as piscinas para a propriedade daquele clube desportivo. O projecto foi-se arrastando para ser concluído já na presidência de Jorge Cosme. Nesta rua encontramos também o Centro Infantil e o Infantário. Miranda só teve um Infantário após o 25 de Abril. Ele foi primeiramente instalado no edifício do S.L.A.T., antigo Dispensário anti-tuberculoso, ao lado. O projecto actual foi feito na presidência de Jaime Ramos pelo Estado e inaugurado pela Dra. Leonor Beleza. O edifício existente posteriormente já teve algumas obras de ampliação. Esta rua, curiosamente e apesar da sua importância, não faz parte da toponímia oficial da vila.

Rua das Amoreiras

Rua da Casa do Gaiato

Delimitada pela Rua Arménio da Costa Simões (Sudoeste)

A primeira casa da “Obra do Pai Américo” foi fundada nos Bujos, aldeia da freguesia de Miranda do Corvo, no dia 7 de Janeiro de 1940. Trata-se, sem dúvida, da primeira grande obra de solidariedade social sedeada no concelho e que, felizmente, teve continuidade em outras.

Desde a sua fundação, a Obra da Rua dedica-se ao acolhimento de rapazes em regime de abandono ou vindos de famílias carenciadas. Vivem seguindo os preceitos cristãos como uma grande família, cada qual com a sua função, em regime de internato aberto. O seu lema é “Obra de rapazes, para rapazes, pelos rapazes”. A partir desta primeira Casa, inaugurada pelo Pe. Américo e mais três rapazes, a obra disseminou-se pelo país e antigas colónias: actualmente existem outras casas em Paço de Sousa, Lisboa, Porto, Setúbal, Angola e Moçambique.

Decidimos aqui incluir o artigo do Prof. Carlos Manuel Trindade, antigo gaiato, publicado no jornal “Mirante” de Janeiro de 1978:

«Sendo “Mirante” um órgão regionalista, parece ter nele inteiro cabimento a efeméride que agora ocorre. Trata-se da criação da Obra da Rua, mais precisamente, da fundação, da Casa do Gaiato. Foi isto, com efeito, há 38 anos. Mais exactamente a 7 de Janeiro de 1940.

Naquela data, Padre Américo trouxe, das ruas de Coimbra, três pequenitos, fundando assim a primeira Casa do Gaiato, em Miranda do Corvo, consagrando-a ao Santíssimo Nome de Jesus. Em 1939, depois de muitas buscas, encontrou, finalmente, o que desejava: uma casa com pequena quinta, que, ao tempo, custou 46.100$00, quantia que alguém lhe deu, pois, nessa altura, já nada de seu possuía. Tudo havia distribuído pelos pobres, por quem há muito se apaixonara.

As velhas casas que rodeavam as primitivas instalações, foram dando lugar a edificações novas, adequadas às necessidades de uma família que foi crescendo sempre. A Família, aliás, foi e continua a ser o padrão da Casa do Gaiato, enquanto que a Pobreza é o seu fundamento.

Inicialmente a Casa do Gaiato foi designada por Casa de Repouso, dadas as precárias condições de saúde de que eram portadores os seus primeiros habitantes. Hoje o objectivo primordial é o amparo da criança abandonada, sobretudo «as mais repelentes, as mais difíceis, as mais viciosas». «A Obra nasceu com este espírito e assim, tem de continuar, para ser, através dos tempos, uma palavra nova». Proféticas palavras do fundador, pois, não obstante, os 38 anos decorridos, a Obra da Rua continua a ser, verdadeiramente, uma palavra NOVA e VIVA no meio do verbalismo estafado e caduco a que vimos assistindo e que a nada conduz.

A sua máxima – Obra de Rapazes, para Rapazes, pelos Rapazes – é um dos princípios educativos fundamentais, pois nas várias Casas, espalhadas pelo país e em Angola, alberga, actualmente, cerca de 800 rapazes e em todas elas há deles mais velhos, responsabilizados e comprometidos na continuidade duma Obra que Deus continua a abençoar.

Por esta Casa do Gaiato, ao longo destes 38 anos, já passaram cerca de 600 rapazes que hoje se espalham, praticamente, por todo o mundo, quase todos singrando na vida, como homens dignos, cidadãos conscientes. Esta meritória obra de promoção social é atestada pelo testemunho de vida de muitos dos filhos desta Casa do Gaiato. Aqui receberam formação escolar e profissional, preparando-se para a vida. A título exemplificativo, uma breve referência aos oito professores do Ensino Primário saídos desta Casa do Gaiato, alguns dos quais se têm alcandorado a níveis académicos de grau superior.

Desde há 27 anos, dirige esta Casa do Gaiato, de que faz parte o Lar do mesmo nome, em Coimbra, o reverendo Padre Horácio que, de alma e coração, se tem dado, em prol do bem desta Obra que directamente herdou de Padre Américo, uma vez que com ele lidou de muito perto. A evolução desta Casa do Gaiato, tem-se feito lenta e serenamente, sem grandes oscilações. Quanto à situação actual, ela pode ser constatada por quem a visita.

Mas a Obra do Padre Américo, que teve em Miranda do Corvo o seu berço, não se limita à Casa do Gaiato, aqui nascida. Outras casas dela nasceram depois, em vários pontos do país: Paço de Sousa, em 1943; Santo Antão do Tojal, Loures, em 1947; Setúbal e Beire (Paredes), em 1955, e Lares em Coimbra, Porto, Lisboa e Setúbal. Em 1963, fundam-se as Casas do Gaiato de Malange e Benguela, em Angola e, em 1967, a de Lourenço Marques, em Moçambique.

O Padre Américo (para os seus, Pai Américo), foi um homem da Igreja e, como ela, projectado à escala universalista. Daí que a sua Obra não tivesse conhecido barreiras, não obstante a pequenez do seu nascimento, ocorrido nessa simpática e acolhedora terra mirandense. Assim, em 1952, no sentido de dar uma casa aos sem abrigo, surge o Património dos Pobres que Miranda, através de alguns dos seus filhos, também conheceu e acarinhou. Esta extraordinária iniciativa deu, depois, origem à Auto-Construção, modalidade actualmente muito em voga.

Finalmente, o canto de cisne de Pai Américo, foi o Calvário, destinado aos doentes incuráveis e abandonados, situado no concelho de Paredes. Esta obra surgiu em 1955 e Pai Américo, a 16 de Julho de 1956, com 69 anos de idade, devido a acidente de aviação, deixou o nosso convívio, sem que a sua presença se deixasse de sentir. Ao contrário do que pensariam alguns cépticos, a Obra não morreu com o seu fundador. Pelo contrário, ela continua bem viva, porque Deus assim o quer. E, quando «Deus quer, o homem sonha, a obra nasce» - diz o poeta. E nasce, não para morrer, mas para crescer e viver, enquanto for essa a vontade do Alto.»

Rua dos Combatentes da Grande Guerra

Antigo Rua do Estanque e Rua da Botica

Delimitada pelo Largo Manuel Pereira Batalhão (Norte)

e Largo Tenente Romãozinho (Sul)

Também a vila de Miranda dedicou na sua toponímia uma artéria a louvar os combatentes portugueses que serviram na Primeira Guerra Mundial (1914-1918) e onde se contavam também militares aqui nascidos mas de que hoje é difícil elaborar a listagem completa.

Ainda assim Armindo Rodrigues refere-nos: «(...) dum memorial existente à entrada do antigo Regimento de Infantaria 23, em Coimbra (...) colhemos os nomes dos militares daquele Regimento mortos em combate: em França apenas um nome, António Maria Rosa (soldado); em Moçambique, 7 baixas, Bernardino A. Fernandes, Joaquim Carvalho, Joaquim dos S. Oliveira, Joaquim Rodrigues, José Augusto, Manuel Fernandes e Manuel João, (todos soldados)». Outros houve com mais sorte e que regressaram à sua terra para junto das suas famílias. Destacamos para o nosso concelho José Quaresma, da vila; Adelino Marques, do Poisão e António Roque dos Reis do Porto Rio.

Um outro ponto de interesse desta rua prende-se com a chamada «Fonte dos Amores», antigo chafariz que se encontrava no Largo Serpa Pinto, actual Praça José Falcão, lembrando os tempos em que não havia água canalizada nas casas e ir à fonte fazia parte das necessidades do quotidiano, aproveitada pelos jovens para também “matar” a sua sede de conversa com os seus desejados.

Em frente do chafariz, fazendo esquina com a Travessa da Fonte dos Amores para poente, podemos admirar uma casa cujo aspecto actual é o resultado de uma remodelação levada a cabo no início do século passado, outrora pertença da família Ferrer. A ela se refere Belisário Pimenta: «Pelo que dizem os velhos julgo ser construção, talvez, do séc. XVII e a que andava ligada a tradição curiosa de ter sido o solar da família nobre dos Coelhos, família que existiu até meados daquele século no lugar do Corvo e que depois, por questão de casamento, passou para o concelho de Penela. A tradição vai mesmo ao ponto de afirmar que na casa a que me refiro, residiu Pêro Coelho, um dos assassinos de Inês de Castro...».

(…)

Armindo Rodrigues refere-nos «(…) esta rua teve anteriormente o nome de Rua da Botica devido ao facto de na casa antes por nós referida ter ali existido a botica de António Pedro da Silva Basto detentor do partido do Boticário de 1825 a 1852. Desempenhou ainda as funções de administrador do Correio e foi também Presidente da Câmara em 1839. Ainda no rés-do-chão daquele edifício esteve instalado o Cartório Notarial até cerca de 1940. A casa ao lado desta, propriedade da família Rosa, foi sede dos Correios até à sua transferência para o actual edifício em 1956.

Ainda antes de se chamar Rua da Botica esta rua teve o nome de Rua do Estanque que significa «Armazém de géneros cuja compra e venda se faz por monopólio; loja em que se vende tabaco». Por esta última acepção se conclui que semelhante estabelecimento deve ter existido nesta rua. Por último importa ainda referir que por volta de 1936, a Comissão Administrativa da Câmara liderada por José Firmino Ribeiro da Cunha procedeu ao alargamento da rua, removendo os balcões exteriores de acesso aos prédios. (RODRIGUES, Armindo, Toponímia Mirandense – subsídios para a sua história, jornal “Mirante”, nº 126, Miranda do Corvo, 1988)

Rua da Coutada

Delimitada pela Rua João Paulo II (Sul)

Quando é criada a Rua Mota Pinto, é permitido o aparecimento desta rua. Originalmente era um caminho agrícola excepto na parte mais urbana, junto à zona da Cruz Branca, onde estava calcetada. O caminho agrícola de Inverno era interrompido por duas regueiras que provinham das quintas de S. Pedro e da Quinta do Campo que inundavam o caminho, sensivelmente onde hoje esta a “Mirandinvest”. Ainda hoje existe lá um pequeno ribeiro.

A coutada é, por definição, uma zona de caça. Se levarmos em consideração que na Idade Média, e mesmo na Época Moderna, esta zona estava fora do aro da vila e tendo em conta as potencialidades ao nível da flora que apresentava antes das últimas urbanizações, é de crer que o topónimo possa ser bastante antigo. Pode, igualmente, tratar-se de uma antiga grande propriedade. Os pequenos trechos ainda visíveis da sua configuração original parecem deixar adivinhar a sua ligação à Estrada Real.

De salientar, igualmente, que esta rua que se inicia perto do Montoiro, não termina na confluência da Rua Mota Pinto mas sim vai desembocar já à Rua João Paulo II. Com efeito ela atravessa a Rua José Carlos Pereira de Carvalho, passa junto ao stande de automóveis do Sr. António da Cruz Francisco e daí segue em direcção à estrada real. É, pois, com toda a certeza, uma das vias mais antigas da vila.

Quando Jaime Ramos é presidente de Câmara e se abre a Rua Mota Pinto, surge a possibilidade de fazer o alargamento e o alcatroamento da rua ainda sem o aspecto urbano que hoje tem e que lhe foi conferido ultimamente já na presidência da Dra. Fátima Ramos.

Rua da Cova da Ponte

Delimitada pela E.N. 342 (Sul)

São normalmente referidas na documentação duas pontes principais: a Ponte do Corvo, sobre o Alhêda, acima referido; e a “velha ponte do Dueça por detraz do castelo”. Esta ponte foi feita em 1666, de alvenaria, depois de porfiadas diligências e, já no séc. XVIII, ainda era chamada “Ponte Nova”. Foi substituída pela actual quando se construiu a Estrada Distrital n.º 108.

Rua do Cruzeiro

Parte da antiga Rua dos Linhares e do Outeiro

Delimitada pela Rua Arménio da Costa Simões (Nordeste)

«Esta Rua utiliza em toda a sua extensão, uma pequena parte do leito da E.N. 342, desde a Ponte do Dueça até ao início da Rua Arménio Simões, no sítio conhecido por Curva do Lagar. Vem a propósito fazer um pequeno historial sobre esta estrada, até por ser a mais importante que atravessa a Vila.

Ao abrigo da classificação de 1889, que agrupava as estradas do continente em estradas reais e distritais, coube-lhe a designação de Estrada Distrital 108. A partir de 1927, data em que entrou em vigor uma nova classificação das estradas nacionais, é-lhe atribuído o número de 52 – 2ª classe. Na vigência desta designação, o troço entre Condeixa e Lousã foi objecto de grande beneficiação, tendo os trabalhos sido empreitados pela Firma Antero Andrade e Silva de Mosteirô, Vila da Feira.

Os citados trabalhos que se iniciaram em 21/7/38 e terminaram em 25/4/40, previam o revestimento betuminoso entre Lamas e Miranda do Corvo, inclusive, facto que acontecia pela primeira vez. A última classificação das estradas nacionais, presentemente a sofrer a erosão resultante da construção dos IP e dos IC (Itinerários Principais e Itinerários Complementares), data de 1945 e é a partir desse ano que a estrada que estamos a referir usa a designação de E.N. 342, a qual tem o seu início em Carriço (cinco quilómetros a sul de Marinha das Ondas), e termina em Avô, sendo a sua extensão de 117 Km.

Ladeando a Rua do Cruzeiro encontramos a capela da Sra. da Boa Morte. A edificação actual data da segunda metade do séc. XVIII, merecendo especial atenção o seu interior onde podem admirar-se três belos retábulos em talha dourada, ao gosto setecentista final.

Esta capela, só a partir do último terço do séc. XVIII tem como padroeira a Sra. da Boa Morte; antigamente era S. Cristóvão o seu orago, como nos atesta Belisário Pimenta na seguinte passagem dum seu trabalho: «Esta ermida ou capela, estava edificada no local onde hoje se vê a capela da Sra. da Boa Morte.

Não sei ainda quando foi construída e talvez o não venha a saber; sei que já existia em 1576 e que na sua frente, no adro, havia um cruzeiro que tinha o nome do mesmo santo e junto do qual se enterravam aqueles que de fora da freguesia, tinham a sorte de vir morrer a ela» (Jornal Alma Nova, Lousã, ano 4, nº108, 16/4/1925).

Mas o monumento que está na base do topónimo atribuído a esta Rua é um Cruzeiro situado num pequeno Largo, que a margina e onde muitos de nós Mirandenses brincámos quando aprendíamos as primeiras letras nos bancos das antigas Escolas Primárias, que lhe ficavam vizinhas.

(...) não achamos de mais recordar o significado das quatro datas (1136, 1140, 1640 e 1940), gravadas na pedra e distribuídas pelas quatro faces da parte superior do Cruzeiro, na base do conjunto artístico que encima a coluna:

1136, evoca o ano em que D. Afonso Henriques, (que apesar de apelidado de «Príncipe» governava de facto o Condado Portucalense, como Rei, desde 1128), concedeu a Miranda o foral que lhe conferia existência como concelho e regulava a sua administração e limites.

1140, pretende assinalar o ano de Portugal como nação. Na verdade, do Recontro de Valdevez, travado em 1140, torneio do qual os Portugueses saíram vencedores, resultou um acordo que seria o primeiro passo para a efectivação de um tratado de paz entre D. Afonso Henriques e o Rei de Leão. Esse acordo conduziu ao Tratado de Samora, firmado em 1143, pelo qual D. Afonso VII de Leão, reconheceu, pelo menos implicitamente, a independência de Portugal.

1640, é outra data importante na história pátria, já que marca o fim do domínio Espanhol sobre os portugueses, que durava desde 1580, consubstanciado na dinastia dos Filipes.

1940 é a data de inauguração do Cruzeiro, padrão semelhante a tantos outros que os portugueses ergueram pelas sete partidas do mundo, principalmente durante a época gloriosa dos descobrimentos. A cerimónia da inauguração foi conduzida pelas individualidades mais importantes da Vila, daquela data, tendo a abrilhantá-la a Filarmónica Mirandense (...)» (RODRIGUES, Armindo, Toponímia Mirandense – subsídios para a sua história, artigo no jornal “Mirante” nº 132 de Miranda do Corvo, 1988).

Rua D. Afonso Henriques

Antiga Rua dos Correios

Delimitada pela Rua Arménio da Costa Simões (Noroeste)

e Rua Dr. Fausto Lobo (Sul)

Monarca português (c. 1108-1185), foi o primeiro rei de Portugal, governando entre 1128 e 1185. Era filho de D. Henrique de Borgonha e de D. Teresa de Aragão. Em 1128, no campo de S. Mamede (Guimarães), venceu os partidários de sua mãe e assumiu o governo. Em defesa do trono, conquistou Santarém (1147) e, com a ajuda dos cruzados, a cidade de Lisboa no mesmo ano. Alargou depois as suas conquistas a Évora e a Beja. A edilidade mirandense dedica-lhe uma rua, pois foi este monarca que concedeu foral à vila em 18 de Dezembro de 1136.

Este arruamento desenvolve-se na sua totalidade utilizando o troço da E. N. 17-1 que, proveniente de Semide, atravessa Miranda em direcção ao Espinhal. Tem o seu início frente à entrada para o antigo Dispensário anti-tuberculoso e termina na chamada «Curva do Frutuoso» outrora situada no termo da actual Rua do Cruzeiro.

Como afirma Armindo Rodrigues na sua importante e já várias vezes citada “Toponímia Mirandense – subsídios para a sua história”, aqui se localizava a vivenda da família Fachada onde funcionou desde a década de 30 até à década de 70 do século passado um estabelecimento dedicado ao comércio de vinhos e comidas, explorado por Frutuoso Fachada. Antes do entroncamento desta rua com a avenida José Falcão encontrava-se a Vila Glória, construção cuja parte mais elevada lembrava um castelo com respectivas ameias. Esta casa serviu durante algum tempo de residência fixa ao capitão Franco que foi opositor ao regime salazarista.

Seguindo ainda o estudo do nosso conterrâneo, Armindo Rodrigues, no local da actual discoteca Teia funcionou no início do século passado um lagar de azeite; mais tarde esse lagar serviu de sala de projecção de cinema; após o ano de 1926 foi transformado em serralharia passando depois a serração de madeiras; antes da utilização actual funcionou como armazém de frutas. Após a discoteca existe uma casa onde habitou e morreu a professora e poetisa D. Lucinda Rosa Quintas, dedicada mirandense e ardorosa defensora dos direitos da mulher, falecida em 1946. Por fim destacamos, no fim da rua, a vivenda da família Marques Ferrer. (RODRIGUES, Armindo, Toponímia Mirandense – subsídios para a sua história, jornal “Mirante”, nº 120, Miranda do Corvo, 1988)

Rua Prof. Doutor Carlos Alberto da Mota Pinto

Delimitada pela Rua José Carlos Pereira de Carvalho (Sul)

Político, académico e jurisconsulto português (1936-1985). Foi professor catedrático da Universidade de Coimbra. Filiando-se no Partido Social-democrata (PSD), que liderou entre 1983 e 1985, desempenhou diversos cargos governativos, entre os quais o de Primeiro-ministro em 1978-1979 e o de Vice-primeiro-ministro e Ministro da Defesa (no chamado Bloco Central) a partir de 1983.

A construção desta rua deu uma outra dimensão à vila, permitindo igualmente que se arranjasse a Rua da Coutada. Esta rua tem uma curiosidade em termos de engenharia que é o facto de ter uma ponte que passa por cima do rio e por baixo da linha de caminho de ferro, isto é, com uma única obra de arte, resolveram-se dois problemas. A ideia de abertura desta rua vem do tempo do Eng. Simões Pereira. É aberta quando Jaime Ramos é presidente de Câmara, na primeira metade dos anos 80.

A colaboração dos proprietários foi também importante, nomeadamente o próprio Eng. Simões Pereira que era proprietário dos terrenos em frente à casa do Dr. Altino Bingre, onde a estrada arranca e onde funcionava uma empresa de construções chamada “Pecol”, propriedade do próprio Eng. Simões Pereira e do irmão, Manuel Simões Pereira.

Esta empresa foi importante para o concelho principalmente porque através de ex-trabalhadores dela nasceram algumas novas empresas. Citam-se como exemplos a empresa de Manuel Dias, antigo encarregado da “Pecol”, que teve sede na zona industrial, na antiga fábrica de resina; o Sr. Isidoro Correia da Silva trabalhou também com eles, criando mais tarde a empresa “Isidoro” que é hoje a mais importante empresa privada do concelho. O Sr. André Dias, de Vila Nova, criará também a empresa de britagem de areias na estrada para Vila Nova.

O Eng. Simões Pereira cedeu o terreno apenas exigindo que lhes fosse dado um outro na zona industrial para reinstalar a Pecol, o que nunca aconteceu porque a empresa começou a entrar em dificuldades e desapareceu; e que fosse feito o prédio que hoje existe à entrada da rua do seu lado direito. O terreno a seguir, onde se situa a G.N.R. e um prédio construído pelo Sr. Fernando Pereira e pelo Dr. Mendes silva, num negócio em que este se comprometia perante a Câmara a construir a estalagem da Quinta do Viso, era da propriedade da família do Eng. Augusto Correia, enquanto os outros eram pertença da família Cid e da família Quintas.

Nesta rua situa-se a G.N.R. que funcionava anteriormente sem condições na Rua da Sra. da Conceição, no edifício da actual biblioteca. Na presidência de Jaime Ramos constrói-se o novo quartel da G.N.R. que será inaugurada já na presidência do Dr. José Lopes, sendo Jaime Ramos Governador Civil e primeiro-ministro o Prof. Cavaco Silva que virá pessoalmente à inauguração desta rua do seu antecessor à frente do PSD.

Esta via marca também o período de desenvolvimento da empresa Isidoro Correia da Silva porque é esta que coloca o pavimento nesta rua recorrendo a uma técnica nova que é a do chamado “tapete a frio”. Antes as ruas eram pavimentadas de maneira diferente: era colocada uma camada de macadame, a seguir a brita e depois regada por cima com alcatrão, era o chamado “sistema de semi-penetração”. O actual “tapete” era pouco utilizado ainda na altura no país. Nesta época o Sr. Isidoro tinha adquirido a tecnologia para iniciar o sistema de “tapete a frio” e uma das suas primeiras obras usando esta nova tecnologia será exactamente aqui nesta rua. No fundo esta rua marca o desaparecimento da Pecol e o aparecimento de outra grande empresa, a Isidoro.

É necessário aludir aqui ao empreendimento “Mirangira”, o loteamento que marca indelevelmente esta rua e que foi alvo de grandes contrariedades por, na altura, se considerar que violava o Plano Director Municipal, mas que depois o Plano de Urbanização veio permitir que se concretizasse de uma forma legal. A “Mirangira” é fruto da sociedade da família Baeta com o Sr. Fernando Pereira.

Nesta rua existe ainda um outro prédio construído por um outro grande empresário de construção civil em Miranda do Corvo, o Sr. Gabriel das Neves Simões.

Existiu ainda, onde hoje se situa o supermercado “Docemel”, uma oficina automóvel pertencente ao Sr. Belmiro Coutinho. Da família Raposo provêm dois filhos: o António e o Joaquim. Este terá um filho, o José, que juntamente com o genro Belmiro, atrás falado, criarão uma oficina onde hoje é o supermercado “Minipreço” na Rua João Paulo II, e esta aqui. Assim duas oficinas da mesma família darão, curiosamente, lugar a dois supermercados!

Rua Dr. Clemente de Carvalho

Delimitada pela Rua de Penela (Sul)

Localizada na continuidade da Rua de Penela, no troço da antiga estrada 17-1, também foi baptizada na presidência de Jaime Ramos. Esta rua teve uma grande importância nestas últimas décadas de Miranda. Aqui se localizou a casa e o consultório do Dr. Altino Bingre do Amaral. Os médicos, tal como os padres e os professores são sempre importantes e marcantes nas terras onde vivem. O Dr. Altino foi um dos três médicos muito importantes na história desta vila. Os outros foram o Dr. Serrano, um elemento da antiga União Nacional, que tinha consultório de dentista e que foi delegado de saúde, na Praça José Falcão; e o Dr. Jaime Ilharco.

A habitação do Dr. Altino situa-se no cruzamento da Rua João Paulo II com a Rua Dr. Clemente Carvalho. Logo a seguir situa-se a serração de Branco & Santos que nasce de uma iniciativa do Sr. Joaquim Parreira, homem ligado à construção das moradias na Rua das Amoreiras, no Carvalhal, e que teve continuidade pelos seus genros, os senhores Manuel dos Santos e Fausto Branco. Esta é a única grande serração que continua ainda hoje a laborar, gerida pelo Sr. Fausto Francisco Branco. Na altura coexistiam algumas grandes serrações como a do Sr. Arménio Baptista; a de Júlio Parreira; a de Manuel Dias e a de Costa Santos. Todas acabaram por fechar. A de Manuel Dias foi transferida pelos seus herdeiros para a Zona Industrial do Alto do Padrão.

Nesta rua situa-se também a Cooperativa dos Olivicultores de Miranda do Corvo, fundada por um grupo de olivicultores liderados pelo Dr. Fausto Lobo. Depois do 25 de Abril esta Cooperativa de Olivicultores acaba por estar na base da criação da Cooperativa Agrícola de Miranda do Corvo, anexando o Grémio que era uma produção do anterior regime de matriz salazarista e que também tem a figura do Dr. Fausto Lobo na sua génese.

Ao lado da Cooperativa dos Olivicultores desenvolveu-se igualmente uma actividade interessante ligada ao azeite e impulsionada pelo lousanense Sr. Virgílio Raimundo dos Santos. Foi aqui que nasceu a marca “Cidacel”, uma das primeiras fábricas de engarrafamento de azeite que depois foi transferida para Vale Escuro, freguesia de Foz de Arouce. Isto deu-se numa fase anterior ao 25 de Abril em que Miranda, na opinião do Dr. Jaime Ramos, não apostou muito no desenvolvimento industrial, ao contrário da Lousã ou de outros locais que incentivaram desde logo os empresários. Em Miranda tal só se iria dar já na década de 80 com a instalação da Zona Industrial da Pereira.

Logo a seguir havia um saleiro, uma interessante construção em madeira, porque o sal não vinha em pacotes como hoje. Tinha que ser comprado em grandes quantidades não só para temperar a comida, mas também porque era essencial para a azeitona: o sal era necessário para manter a azeitona sem apodrecer até haver uma quantidade suficiente para fazer o “moinho”. Na altura como também não havia frigoríficos, a maneira de manter a carne passava pela salgadeira. O sal chegava a Miranda por comboio e depois aqui armazenava-se no saleiro, propriedade do Sr. José Ramos que o distribuía em carros de bois até Alvaiázere, Castanheira de Pêra, Figueiró dos Vinhos, Ansião. Miranda era então o centro distribuidor de sal a partir desse saleiro que ainda existia há dez anos atrás.

José Ramos é também uma personalidade interessante: era órfão, foi criado por uma família de Cadaixo, homem com grandes dotes de trabalho na agricultura acabando por criar uma excelente casa agrícola, só suplantada pelas duas grandes quintas. Ele acaba por ter um filho médico, algo também pouco usual na altura, o Dr. José Ramos que vive actualmente no Alentejo. Teve também outros filhos: a Sra. Arminda, já falecida; o Sr. Jaime Ramos, para além de outros dois filhos que faleceram. Este Sr. Jaime Ramos também possuiu uma mercearia e uma taberna em frente à Cooperativa que marcou durante longos anos aquele local, tendo aquela habitação como característica única, o facto de terem nascido lá dois presidentes de Câmara de Miranda: Jaime Ramos e Fátima Ramos.

Ainda nesta rua urge fazer referência a uma das mais antigas e importantes oficinas de Miranda, a oficina Raposo & Irmãos, fundada pelos senhores Joaquim e António Raposo, que depois teve continuação nos seus herdeiros, sendo gerida pelo Sr. Laurentino Raposo, filho do Sr. António Raposo. Esta empresa, representante do grupo Peugeot, passou há pouco tempo para o grupo Isidoro. Este grupo empresarial de grande relevância no nosso concelho é já um dos maiores empregadores privados do concelho, fazendo lembrar em termos históricos, por exemplo, a relevância que teve noutro tempos a família Ferrer. Esta família foi, no seu tempo, uma das maiores famílias em termos económicos. Dizia-se, por brincadeira, quando algum indivíduo era mais esbanjador o seguinte ditado:”Tu, nem com a fortuna do Ferrer Correia te aguentas!”.

Rua Dr. Fausto Lobo

Delimitada pela Rua D. Afonso Henriques (Norte)

e Rua João Paulo II (Norte)

Médico, Fausto Ferreira Lobo, nasceu em Coimbra em 9 de Novembro de 1895 e morreu em 1952. Formou-se em Medicina, em 1919, na Universidade de Coimbra. No cumprimento do serviço militar, foi destacado para exercer medicina em Estarreja, Mira e Miranda do Corvo, no combate à terrível epidemia que ficou conhecida como pneumónica. E foi Miranda que o cativou e ao passar à disponibilidade fixou aqui residência. Foi médico municipal e delegado de saúde. Republicano convicto aderiu ao regime do Estado Novo. Nesse tempo um dos maiores flagelos era a tuberculose que espalhava a mortandade por toda a parte.

O governo encetou então uma campanha de luta anti-tuberculosa criando dispensários para debelar tão terrível mal. Foi, então assim, o fundador do Dispensário Anti-tuberculoso na vila, cujo antigo edifício ainda se encontra na rua que ostenta o seu nome.

Muito interessado pelos problemas da lavoura procurou resolvê-los dentro de um espírito colectivo. Estava-se então em plena 2ª guerra mundial. Com decisão avança com a ideia de constituição, no final de 1942, do Grémio da Lavoura. Coincidindo com a guerra também uma terrível seca assolou o País durante dois anos o que gerou escassez e fome. Através do Grémio, vários contingentes de milho colonial foram distribuídos o que veio atenuar a dramática situação. Nesse tempo, o concelho de Miranda do Corvo era um grande centro produtor de azeitona. Os velhos lagares não tinham capacidade de resposta, nem condições de higiene e de rentabilidade para a extracção do azeite. Era necessário dotar Miranda de um lagar moderno. E assim surgiu a Cooperativa de Olivicultores em 1950. Fez parte do Conselho Superior de Transportes Terrestres e da Junta Autónoma de Hidráulica Agrícola.

Rua Dr. Mário de Almeida

Delimitada pelo Largo Manuel Pereira Batalhão (Norte)

e Travessa dos Alhos (Sul)

Mário Augusto de Almeida foi advogado e professor e nasceu em Miranda do Corvo, a 28 de Junho de 1885, falecendo em Coimbra em 1929. Formara-se em Direito no ano de 1912 na Universidade de Coimbra. Em 1913 foi eleito presidente da Câmara Municipal de Miranda do Corvo para o triénio de 1914 a 1916. Transferindo a sua residência para a cidade de Coimbra, aí abriu escritório de advocacia, dedicando-se a assuntos administrativos.

Em 1919, criada a Escola Comercial de Coimbra, foi nomeado seu professor e director, e mais tarde foi igualmente nomeado professor do Instituto Industrial e Comercial de Coimbra. Conhecida a sua acção na Câmara Municipal de Miranda do Corvo, na qual avulta a construção do edifício dos Paços do Concelho, foi eleito em 1922 presidente do município de Coimbra, tendo sido reeleito em 1925. Dos livros que publicou realce para “Elementos de Economia Política”; “Código Administrativo Prático” e o incompleto “Forais e Municípios”.

«Nesta rua residiram o Dr. Aurélio Augusto de Almeida, irmão do Dr. Mário, Dr. Francisco Augusto da Costa e Silva. Bacharel em Teologia, e seu sobrinho José Camilo da Silva Bastos que foram presidentes da Câmara de Miranda e ainda o Dr. Fausto Lobo, médico, político e fundador do Grémio da Lavoura e da Cooperativa de Olivicultores. Na rua que estamos tratando, na casa onde hoje funciona o Café Central, existiu durante vários anos e até meados da década de trinta, um estabelecimento da família Almeida que se dedicava à comercialização de artigos diversos, especialmente ferragens, cimento, ferro e outros materiais para a construção, tabacos, cabedais (…). Segundo as informações que colhemos este estabelecimento era o único do seu género e o mais bem surtido das redondezas ocupando-se inclusivamente na região da venda por atacado, às casas suas congéneres de projecção inferior.

Na esquina que esta casa faz com a Rua José Firmino da Cunha existe um marco que se supõe estar relacionado com demarcações conventuais relativas ao «senhorio» de Miranda e que remonta ao séc. XVII. A sua história e finalidade constam certamente das inscrições que ostenta e cuja leitura se torna difícil, senão impossível, mesmo a especialista da matéria dado que a acção destruidora do tempo danificou já a maioria dos caracteres.

Uma particularidade desta rua que se mantém ainda hoje nos nossos dias, prende-se com o facto de a ela estar ligada a festa religiosa mais importante do concelho, a «Solenidade dos Passos do Senhor»; a imagem da Virgem, previamente guardada numa casa desta artéria, dali sai através da Rua José Firmino da Cunha para o célebre encontro na Praça José Falcão com a imagem do Senhor quando esta, em procissão, percorre as ruas da Vila pelo itinerário tradicional.» (RODRIGUES, Armindo, Toponímia Mirandense – subsídios para a sua história, jornal “Mirante”, nº 127, Miranda do Corvo, 1988).

Rua Dr. Rosa Falcão

Antiga Rua Coronel Vicente de Freitas e/ou Rua d’ Além

Delimitada pela Rua da Filarmónica (Noroeste)

e Rua Dr. Fausto Lobo (Sudeste)

«O jurisconsulto Francisco Fernandes da Rosa Falcão nasceu em Miranda do Corvo em 4 de Janeiro de 1879 e morreu em Lisboa a 14 de Junho de 1931. Está sepultado no cemitério da freguesia do Espírito Santo de Lamas onde jaz em campa rasa com lápide, ao lado da Quinta da Sobreira (Toca de Lamas como ele lhe chamava) que em vida comprara. Tendo perdido os pais muito cedo, foi seu tio e seu tutor o Dr. Clemente Fernandes Falcão, que tomou a seu cargo a sua educação.

No ano lectivo de 1895-96, aos 17 anos de idade, matriculou-se na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, concluindo a sua formatura em 1900. Casou com D. Arminda Simões da Silva Rêgo, sobrinha do Dr. Francisco Vieira de Sousa Rêgo, que o encaminhou na vida prática quando, fixando-se no Avelar, começou a exercer a advocacia em Ansião e nas comarcas vizinhas. Quando faleceu era subdirector do Supremo Tribunal de Justiça. Exerceu a advocacia em Coimbra, de cuja Relação foi também secretário, foi governador civil daquele distrito e de Leiria, devendo-se-lhe o Código do Processo Penal, o Estatuto Judiciário e outros diplomas saídos do Ministério da Justiça. Conhecida e realçada a sua actividade docente achou-se por bem dar o seu nome à antiga Rua d’ Além, onde se situa a Escola Básica de 1º Ciclo.

«O nome do Dr. Rosa Falcão foi incluído na toponímia da vila no ano de 1935 sob proposta dos autarcas que nessa data dirigiam os destinos do nosso município, sendo presidente José Firmino Ribeiro da Cunha. No final da rua que em Miranda lhe foi dedicada, no edifício da (antiga) Padaria Flor encontra-se uma placa toponímica que ostenta o seu nome. As características desta placa são bem diferentes das que observamos naquelas que recentemente foram afixadas na vila para servirem fins semelhantes; trata-se de um motivo toponímico trabalhado, apresentando na parte superior, lado a lado, em alto-relevo, as Armas de Miranda do Corvo e as Armas de Portugal.

Esta via foi anteriormente conhecida como «Rua de Além» nome ainda hoje utilizado pelos mirandenses pertencentes ao grupo etário mais idoso. «Rua de Além» foi uma designação popular, um topónimo que a voz do povo criou e manteve e deve-se certamente ao facto de este arruamento se estender para além do rio, em relação à parte velha ou núcleo tradicional da Vila. (...)». Nesta rua situa-se a capela de S. Sebastião, pequena construção encastrada por habitações, de fundação antiga mas restaurada modernamente.» (RODRIGUES, Armindo, Toponímia Mirandense – subsídios para a sua história, jornal Mirante, nº 122, Miranda do Corvo, 1988)

O Sr. Prof. Augusto Paulo enriquece mais os dados afirmando: « (...) Antes de lhe ser atribuído o nome do Dr. Rosa Falcão, a rua tinha por patrono o Coronel Vicente de Freitas, segundo parece um oficial de origem madeirense. (...) Nesse tempo era uma típica rua de aldeia em que o acesso às habitações se fazia pelo exterior por meio de balcões e de patins, que tornavam estreita a passagem. (...) Firmino da Cunha mandou proceder à demolição desses balcões, dando à vila um aspecto urbano mais moderno. (...) Alargada e pavimentada, a rua foi então rebaptizada com o seu nome actual». (RODRIGUES, Armindo, Toponímia Mirandense – subsídios para a sua história, jornal Mirante, nº 122, Miranda do Corvo, 1988)

O ringue desportivo que lá existe nasce da iniciativa dos jovens a seguir ao 25 de Abril, contando na altura com o apoio da Câmara. Teve obras de melhoramento da infra-estrutura e da envolvente já agora na presidência da Dra. Fátima Ramos.

Rua das Escadas da Sra. da Boa Morte

Delimitada pela Rua do Cruzeiro (Sudeste)

e Ladeira do Carvalhal (Noroeste)

A Capela de Nossa Senhora da Boa Morte encontra-se isolada num adro na vila. Anteriormente terá lá existido a capela de S. Cristóvão, de que subsiste documentação provando a sua existência em 1576. Houve igualmente, à sua frente, um adro com um cruzeiro com o nome do mesmo santo. Lá se enterravam os que, sendo de fora da freguesia, nela pereciam, o que levou a que chamassem àquele adro “pátria dos peregrinos”. As paredes laterais do corpo acusam, pela cornija, reaproveitamentos de uma obra do séc. XVII.

Foi nesta capela que se instituiu, em 1732, a Irmandade de Nª. Sª. da Boa Morte, a requerimento de vários eclesiásticos e civis. Pelas suas dimensões era, nesta altura, a maior capela da vila e por este motivo, quando na igreja paroquial não era possível celebrar o culto, vinham temporariamente as funções paroquiais para S. Cristóvão. Assim em 1709, havendo a necessidade de levar a cabo obras na Matriz, as missas diziam-se em S. Cristóvão. Em 1767, pensou-se em construir uma nova igreja matriz, porque a que existia estava muito arruinada. Chegou a elaborar-se um projecto de alargamento da capela de S. Cristóvão, para a sua transformação em matriz, mas a ideia não foi, porém, avante.

Em 1785 quando se demoliu a velha igreja matriz, a capela de S. Cristóvão voltou a ter funções paroquiais, até se fazer a nova igreja matriz que actualmente existe. Estas razões da sua importância serviram até para que se retirasse do adro e das proximidades, a feira semanal que aí se fez até 1775: nesse ano a Câmara e os moradores forçaram para que fosse mudada para a praça sobranceira ao rio; e, entre as alegações, aparece a da «indecência considerável» que o mercado representava para a celebração do culto na capela, especialmente nas primeiras quartas-feiras do mês, em que a afluência de gente e o burburinho correspondente se contrapunham à seriedade e compostura dos actos religiosos.

Depois de queimada pelos franceses, esteve sem arranjo até 1838, ano em que se fez novo compromisso com a irmandade, por ter ardido o anterior, e se pediu aprovação régia. A construção actual pertence à segunda metade do séc. XVIII, altura em que muda de patrono.

O espaço contíguo à capela é curioso, acreditando alguns que os muros envolventes relembram, intencionalmente, uma barca. Tal facto poderá estar ligado à invocação actual da construção – a Boa Morte - relegando-nos para a travessia que é necessário fazer após a morte, facto bastante retratado, por exemplo, no teatro vicentino (cf. Auto da Barca do Inferno).

A fachada é bem proporcionada, existindo pilastras nos cunhais, cimalha de cantaria que segue traçado mistilínio, porta e óculo quadrilobado, com molduras e formando uma só composição; duas janelas do coro, de aro moldurado, e abaixo, ao lado da porta, dois rótulos concheados. No interior existem três retábulos de gosto setecentista final: no principal, de quatro colunas reempregaram muitas talhas do princípio do século. Existem ainda esculturas de madeira do séc. XVIII: Senhora da Boa Morte à esquerda e S. João Baptista à direita, movido e gracioso; um S. Cristóvão de pedra do séc. XVII, no retábulo lateral direito, que foi o orago da mesma capela até ao último terço do séc. XVIII.

Rua da Estação

Delimitada pela Rua Dr. Fausto Lobo (Oeste)

Nesta rua existem vários equipamentos: o Posto de Internet da Câmara Municipal; o Cinema da A.D.F.P., existe ainda a Estação e o armazém da CP, uma construção marcante em madeira. Existiu, ainda, uma fábrica de rolhas num edifício pertencente à família Cid. Também o Sr. Júlio Parreira teve aqui, em sociedade, uma fábrica de refrigerantes.

Rua Fausto Branco

Delimitada pela Rua dos Oleiros (Oeste)

«Fausto Branco nasceu em Barbens, da freguesia de Vila Nova, em 19 de Julho de 1921, e apesar de ser uma pequena aldeia, tirou o curso de contabilidade da Escola Brotero, em Coimbra, passando a trabalhar na antiga Livraria Atlântida. Após o seu casamento com Maria da Luz Parreira ficou ligado à firma do sogro, Joaquim Parreira Novo, da qual mais tarde se tornou um dos gerentes quando, com o seu cunhado Manuel dos Santos, assumiu a direcção da fábrica de serração de madeira.

Uma vida que parecia talhada para a felicidade plena ficou ensombrada pela morte precoce da esposa em 14 de Julho de 1952. (...) O seu empenho e competência ficaram bem demonstrados nas colectividades e instituições para que foi solicitado, tanto civis como religiosas. No Grémio da Lavoura, na Cooperativa de Olivicultores, como vereador e vice-presidente da Câmara, na fundação da Santa Casa da Misericórdia, nos Bombeiros Voluntários (com destaque para a construção do quartel na Praça José Falcão), nas irmandades, nas manifestações religiosas, no embelezamento do Caramito, na acção socio-caritativa através das conferências de S. Vicente de Paulo e do Património dos Pobres, desenvolveu uma notável e eficiente acção ao serviço da comunidade.

Homem religioso vivia com fervor e aprofundamento os mistérios da sua fé de que dava público testemunho. A prática religiosa era evidenciada no apoio aos pobres e desprotegidos que lhe mereciam um carinho especial. A sua acção não se limitava ao auxílio material, mas estendia-se ao conforto espiritual, através da palavra amiga e da esperança com que tentava minorar o sofrimento e o isolamento que atormentam os desfavorecidos.

Na administração do Lar da Pereira desenvolveu, durante muitos anos, um profundo labor sempre despido de qualquer interesse. Norteado pelas palavras de Cristo e pelo exemplo do Padre Américo, duas figuras de referência deste devotado servidor da Igreja, fundou em Miranda do Corvo o Património dos Pobres. Através desta obra ia distribuindo, não só o seu dinheiro, mas também o daqueles que lho confiavam, na procura de solução para os problemas habitacionais dos sem lar ou na melhoria das casas degradadas e sem condições de habitabilidade, não falando na ajuda a situações de apuro dos que constantemente acorriam à sua porta. Esta obra foi a “menina dos seus olhos” que acarinhou apaixonadamente.

Quando a paróquia de Lamas ficou sem padre, Fausto Branco assumiu a sua orientação e passou a presidir aos serviços religiosos que o bispo lhe confiou, numa experiência única na diocese.» (Artigo evocativo do Sr. Professor Augusto Santos Paulo publicado no jornal “Mirante” por ocasião do falecimento deste distinto mirandense).

Rua da Filarmónica

Antiga Rua dos Correios

Delimitada pela Rua Dr. Rosa Falcão (Sudeste)

e Largo Tenente Romãozinho (Noroeste)

«O Grupo Recreativo Mirandense, ao qual pertence a Filarmónica Mirandense, foi fundado em 27 de Julho de 1931 devido à acção de uma Comissão Organizadora constituída por José Camilo da Silva Bastos, Alexandre Ribeiro São Miguel, Jaime Cordeiro, Isaac Almeida (Costa), Henrique Fernandes Bastos e Augusto dos Santos.

Poucos meses depois, mais precisamente a 5 de Outubro do mesmo ano, era reorganizada a Filarmónica Mirandense «...para o que havia já decidido criar uma escola de música aberta aos sócios, determinando em regulamento a possibilidade de aprendizagem daquela arte por parte dos filhos e irmãos dos sócios, menores de dezasseis anos. Na mesma data ficou decidido convidar os antigos filarmónicos da vila.

O Grupo Recreativo Mirandense foi inaugurado, conforme noticia o “Diário de Coimbra” na sua edição de 9 de Janeiro de 1932, no primeiro dia daquele ano. O jornal louva, em particular, a acção relevante do Sr. Carlos Batalhão, como um dos principais impulsos para aquele desfecho. São igualmente aventados outros nomes: “...Henrique Fernandes, Augusto, Alexandre (...) Sr. Carlos e do Arlindo...”. A inauguração deu-se assim, como foi dito, pelas 20 horas do dia 1 de Janeiro de 1932 com uma homenagem a José Falcão. Discursaram o Dr. Carlos Batalhão e ainda o capitão Franco e Henrique Fernandes. No fim foi servido um “Carrascão de Honra” aos sócios e um “Porto de Honra” às famílias.

O Grupo Recreativo contava no seu início com 130 sócios e teve como propósito inicial reorganizar a antiga Filarmónica Mirandense, sob o impulso de Arlindo d’Almeida. A inauguração oficial da Filarmónica foi realizada a 1 de Janeiro de 1933. Ainda hoje a sede deste grupo é no antigo Paço dos Melos situado nesta rua. Este designado «Palácio dos Melos», antiga casa senhorial é pois desde há mais de meio século a sede histórica do Grupo Recreativo Mirandense e, por inerência, da própria Filarmónica Mirandense.

«Essa continuidade – como afirma Armindo Rodrigues – somente foi interrompida recentemente durante o curto período necessário às obras de restauração do referido Palácio, concluídas no início de 1981. (…)

Nesta mesma rua situou-se no período de 1845 a 1867, uma tipografia pertença do avô materno de Belisário Pimenta, de seu nome Manuel Caetano da Silva, que exerceu na vila as funções de escrivão da Administração e escrivão da Câmara. No Opúsculo de Belisário Pimenta, Uma Tipografia Ignorada, pode ler-se: «Instalou-a na mesma casa onde nascera e que era sua, à Ponte de Baixo, quási à esquina do caminho dos Barreiros, logo a seguir à casa senhorial da família Cabral Arnaut. Ainda existe essa casa um bocado alterada no seu aspecto geral e bastante soterrada devido ao assoreamento da ribeira do Alhêda e à substituição da velha ponte de pedra pela actual que fizeram altear o pavimento da rua a ponto de o antigo 1º andar ser hoje um rés-do-chão para o qual se sobe três degraus».

Devido a desavenças políticas Manuel Caetano da Silva viu-se obrigado a mudar, sorrateiramente, a sua tipografia para Coimbra na noite de 31 de Março de 1867. A mesma casa serviu também no início do século passado para sede dos Correios o que levou a que também tivessem chamado a esta artéria Rua dos Correios.» (RODRIGUES, Armindo, Toponímia Mirandense – subsídios para a sua história, jornal Mirante, nº 125, Miranda do Corvo, 1988).

Rua das Fontaínhas

Delimitada pela Rua do Cruzeiro (Sul)

Rua João Paulo II

Delimitada pela Rua José Carlos Pereira de Carvalho (Oeste)

Papa (1920-2005) nascido em Wadowice, na Polónia, de seu nome Karol Wojtila, exerceu a função desde 1978. Foi o primeiro papa não italiano a ser eleito em 456 anos. A sua influência em várias línguas permitiu-lhe ser embaixador da Igreja por todo o mundo. Nas questões sociais defendeu as ideias tradicionais católicas manifestando-se contra o aborto, o uso de contraceptivos e o divórcio. Devoto de Nossa Senhora de Fátima, deslocou-se ao Santuário de Fátima, em Portugal, por duas vezes. Realizou a sua segunda visita com o propósito de presidir à beatificação de Jacinta e Francisco Marto, os dois pastorinhos ali sepultados desde 1951 e cujo processo de beatificação foi iniciado em 1948.

Faleceu já no decorrer deste ano, após o sofrimento provocado por várias complicações respiratórias e pela Doença de Parkinson que já o afectava há vários anos. Deu um exemplo de sofrimento e renuncia que comoveu católicos e mesmo não católicos.

Esta rua teve ali instaladas duas importantes indústrias: a serração de Manuel Dias & Filhos e a firma de Júlio Parreira. Como pessoas de relevância para o concelho que lá viveram, ou se instalaram, devemos realçar o Sr. Fausto Branco, o Sr. Belmiro Coutinho que chegou a ser vereador pelo C.D.S. na Câmara mirandense. A antiga oficina de Belmiro Coutinho em sociedade com elementos da família Raposo, dará o seu lugar ao supermercado “Minipreço”.

Rua José Carlos Pereira de Carvalho

Delimitada pela Rua Dr. Fausto Lobo (Este)

O Lar de Idosos da Pereira tem o nome de Clemente de Carvalho que era pai deste José Carlos que foi quem doou à Igreja o terreno com a obrigatoriedade de lá ser erigido um lar para idosos, quando era pároco de Miranda o Sr. Padre Coimbra. Este com a ajuda do Sr. Fausto Branco levarão a cabo a construção do lar apoiados pois em parte da herança daquele senhor. O nome da rua é dado na presidência de Câmara de Jaime Ramos como forma de agradecimento por aquele gesto.

Rua José Firmino Ribeiro da Cunha

Antiga Travessa do Rio

Delimitada pela rua Dr. Mário de Almeida (Norte)

e Avenida e Praça José Falcão (Sul)

«Este pequeno arruamento que liga a Rua Dr. Mário de Almeida à Praça José Falcão, era conhecido há muitos anos pela Travessa do Rio, talvez por vir dar ao rio Alhêda, quando este, sem curso definido, vagueava livremente pelo extenso areal que é hoje a bela praça, em frente aos Paços do Concelho.

A regularização do leito do rio terá começado com a construção do paredão na margem direita, e a partir daí a praça tem vindo a embelezar-se até ao estado em que actualmente se encontra.

Foi na antiga Travessa do Rio que viveu e se estabeleceu José Firmino Ribeiro da Cunha com uma farmácia que teve o seu nome e que ainda hoje existe sob a denominação de Farmácia Antunes. José Firmino Ribeiro da Cunha nasceu em Lufreu, concelho de Penacova, em 1881, e casou com D. Camila Bastos Ribeiro da Cunha, em 1907. Datará mais ou menos desta altura o seu estabelecimento em Miranda do Corvo.

Os seus conhecimentos e a prática devidamente registada valeram-lhe o diploma da Real Escola de Farmácia do Porto. Pessoa muito activa e empreendedora, interessou-se também pelo progresso e desenvolvimento de Miranda do Corvo, tendo feito parte dos corpos administrativos do município mirandense.

De 1914 a 1917, fez parte da Comissão Administrativa presidida pelo Dr. Mário de Almeida, (...) Em 8 de Dezembro de 1934, tomou posse de membro da Comissão Administrativa, substituindo Manuel Lopes Godinho, que havia sido exonerado pelo Governador Civil. (...)

A acção desenvolvida por Firmino da Cunha foi grande e só desfolhando as actas da Câmara desse tempo se poderá Ter uma ideia da sua obra, pois não faltam referências a obras de reparação e construção de fontes, pontes, estradas e escolas por todo o concelho e que seria impossível descrever aqui.

A Vila de Miranda sofreu uma enorme transformação com o alargamento de ruas Vicente de Freitas (hoje Rosa Falcão), dos Combatentes, da Igreja (hoje Calvário, o arranjo do largo das antigas escolas com os balaústres, a pérgola e o jardim onde hoje está instalado o parque infantil.

Por sua iniciativa a Câmara adquiriu um rádio com altifalantes (uma novidade na época) para dar vida à Praça José Falcão e proporcionar um pouco de cultura aos ouvintes. Insistiu junto da Administração dos Correios para que a estação dos correios instalada no edifício da Câmara fosse transferido para instalações próprias. Mandou executar os projectos para a construção do paredão na margem esquerda do rio Alhêda, os esgotos, de um mercado para o peixe, abastecimento de água à vila, e outros.

Muitos destes projectos já não foram executados por ele e outros nem sequer foram elaborados, por ter sido demitido catorze meses depois de ter tomado posse.

Minado por implacável doença, veio a falecer em 30/10/1940, com 59 anos. Mas a sua maior batalha travou-a contra o Professor Bissaya Barreto, poderoso político que então pontificava em Coimbra, por causa da construção do Dispensário Antituberculoso em Miranda do Corvo. A anterior Comissão Administrativa tentara directamente junto da Assistência Nacional aos Tuberculosos a sua construção à revelia do Professor. Firmino da Cunha não desistiu da pretensão e ainda deu maior incremento. O Professor não gostou...e não perdoou: demissão, pura e simples, foi o castigo que motivou a carta dirigida aos seus concidadãos e que prova bem a determinação e a verticalidade deste Homem que amou Miranda, servindo-a com dedicação e com inteligência. (...)» (artigo do Sr. Prof. Augusto Paulo em RODRIGUES, Armindo, Toponímia Mirandense – subsídios para a sua história, jornal Mirante, nº 127, Miranda do Corvo, 1988).

Rua Lucinda Rosa de Jesus Quintas

Delimitada pela Rua Pe. Fernando Coimbra (Este)

A imagem não engana: olhar acutilante, aspecto determinado, silhueta elegante. Falamos de LUCINDA ROSA DE JESUS QUINTAS. Quem? - perguntarão os leitores mais incautos.

Esta figura incontornável da vida cultural mirandense da primeira metade do século passado nasceu nesta vila a 9 de Fevereiro de 1887 numa casa da actual Rua Rosa Falcão que era, aliás, seu irmão. Os seus pais foram Maria das Dores e António Francisco Quintas. Deixou este mundo a 20 de Setembro de 1946 com 59 anos de idade e uma vida cheia.

A melhor síntese biográfica existente sobre esta Mirandense, que poderá, eventualmente, ainda estar na retina de alguns mirandenses menos jovens, é da autoria de uma outra grande mulher e outra grande mirandense, que igualmente dedicou a sua vida à docência e à intervenção social, Maria Emília Gameiro de Almeida. Foi publicada na edição de Outubro de 1978 do Jornal “Mirante”, da qual tomamos a liberdade de transcrever alguns parágrafos:

“Em 20 de Setembro de 1946, faleceu na vila de Miranda do Corvo, com 59 anos de idade, e após grande sofrimento, D. Lucinda Rosa de Jesus Quintas. (...) Dotada de espírito culto e inteligente, simples, franca e espontânea no seu trato amigo, sabia captar a simpatia daqueles com quem contactava.

Exerceu impecavelmente durante anos, a profissão de professora na escola de Lamas. Forte e corajosa nos seus compromissos, constante e perseverante, não afrouxava nem desistia dos planos que tomava.

Dedicava especial interesse e simpatia pelo canto, música, festas escolares e até extra-escolares. Apresentou várias récitas em Lamas e Miranda do Corvo, com fins beneficentes e educativos. Por vezes fez interessantes poesias, musicadas por Arlindo de Almeida, pessoa das suas relações de amizade.

Consagrou grande estima, protecção e apoio ao Grupo Recreativo Mirandense e à sua Filarmónica, que a tomou como sua (primeira) Madrinha. Nesta colectividade em 15 de Maio de 1942, a convite do presidente da direcção, Dr. Carlos Batalhão, também já falecido, pronunciou uma conferência subordinada ao tema “Mulher”, em que exaltava a figura da mulher como membro da família e da pátria.

Alegre e espirituosa, era grande animadora dos serões que nessa altura as senhoras de Miranda realizavam, confeccionando roupas para os mais desprotegidos. Apaixonada por Miranda, bairrista 100%, aproveitava todo o ensejo para exaltar a sua beleza e se interessar pelo seu progresso. No jornal “Alma Nova” que se publicou na Lousã, colaborou assiduamente na defesa e exaltação da sua terra.”

Escreveu sonetos, comunicações, artigos de jornal, peças de teatro dos quais destacamos “Miranda do Corvo”, “As Duas Senhoras da Piedade”, “Mulher”, “As Feiticeiras”, “Hino de Miranda”, “A Caridade”, entre outros.

O seu inegável apego à terra fez com algumas vezes tivesse entrado em conflito mais acérrimo pela defesa da sua vila como aquela disputa que manteve, em fins de 1935, no jornal “Alma Nova” com o professor Figueiredo Franco sobre uma visita por este efectuada à nossa vila em que o universitário sublinha “...a sua imundície” devido ao lixo acumulado pelas ruas.

Lucinda Quintas insurgiu-se frontalmente contra o professor acusando-o de só ter sublinhado aspectos negativos e nada ter referido de positivo da “Linda Miranda das Beiras” ao não falar, por exemplo, das diversas melhorias então em curso na vila levadas a cabo pela Câmara gerida por Firmino da Cunha e Fausto Lobo, outros dois distintos mirandenses.

Segundo apontava Lucinda Quintas ao professor ”...a montureira não era para alí chamada, quando muito deveria ser arrumada noutro lugar, bem longe, e depois lançar nela não sòmente o que viu em Miranda, mas também o que não deixou de ver nas outras vilas por onde passou e até na própria cidade donde partiu.” Devido aos imensos artigos de resposta e contra resposta entre os dois o jornal viu-se obrigado a encerrar a contenda deixando de publicar tais artigos.

D. Lucinda Quintas era irmã do Dr. Francisco Rosa Falcão, que foi secretário do ministro Dr. Manuel Rodrigues.

No primeiro aniversário do seu falecimento, um grupo de amigos prestou-lhe sentida homenagem, conforme atesta a inscrição gravada na sua campa. (...) filarmónicos e elementos do rancho do Grupo Recreativo Mirandense, juncaram-lhe o túmulo de flores, numa romagem de saudade.”

Acrescente-se ainda um outro pequeno episódio que pode ajudar a atestar, mais ainda, a abrangência da sua personalidade e o efeito que provocou naquelas que com ela conviveram: talvez devido ao facto de Lucinda Quintas não ser católica ou não demonstrar publicamente a sua fé, houve algum litígio aquando da sua morte entre os inúmeros amigos que lhe queriam prestar uma última homenagem.

O então pároco da vila, recusou que se prestasse um enterro católico a Lucinda Quintas, situação esta que provocou um ligeiro conflito com os amigos e admiradores da Senhora Professora. A situação só foi ultrapassada pela cedência do dito pároco perante a imensa pressão de todos aqueles que se juntaram para prestar uma última homenagem a Lucinda Quintas.

Como remata também essa outra grande mirandense que foi Maria Emília Gameiro de Almeida: “Se todos os mirandenses residentes ou nascidos em Miranda, fossem da rija têmpera desta senhora, teríamos sem dúvida uma terra mais progressiva e atraente. Miranda do Corvo tem para com Lucinda Quintas uma dívida de gratidão.”.

Rua Maria Emília G. de Almeida

Delimitada pela Rua Pe. Fernando Coimbra (Este)

«Nasceu na freguesia de S. Pedro de Alcântara, em Lisboa, no dia 11 de Novembro de 1906, filha de José Gameiro e de Carolina Malho Gameiro.

Ainda criança, veio viver para Miranda do Corvo e depois para Bruscos onde sua mãe leccionou durante muitos anos. Tal como sua mãe, fez estudos com vista ao exercício do magistério primário. Com apenas 18 anos iniciou-se no professorado, tendo feito da sua vida um sacerdócio em prol do ensino das crianças, com a responsabilidade de o fazer na fase que consideramos mais difícil e que é a de transformar um campo inculto num terreno propício a receber a semente.

Durante o seu longo magistério leccionou em escolas de várias localidades, algumas bem distantes do nosso concelho, numa época em que as distancias se venciam a pé ou, na melhor das hipóteses, utilizando animais de tiro ou bicicleta.

Iniciou a sua profissão de professora na escola de Mega de S. Domingos, no concelho de Góis, onde esteve apenas um ano lectivo, tendo passado depois sucessivamente pelas escolas de Matas, concelho da Lousã; Espinho, concelho de Miranda do Corvo; Cumieira, concelho de Penela; Rio Fundeiro, Dornes, concelho de Ferreira do Zêzere (quatro anos); Lamas (seis anos); e Pereira (vinte e oito anos); estas últimas no concelho de Miranda do Corvo.

Empreendedora, não se confinava ao ensino das matérias curriculares, conseguindo ainda tempo para dinamizar entre os seus alunos a prática de actividades lúdico/culturais. Com esses pequenos actores, levou à cena várias récitas e peças de teatro infantil, sendo a apresentação da grande maioria levada a efeito no salão de festas do Grupo Recreativo Mirandense e em benefício dessa colectividade.

Como prémio de uma vida dedicada ao ensino, foi condecorada pelo Sr. Presidente da República com a medalha da Ordem da Instrução Pública, no dia 10 de Junho de 1970. Depois de uma existência cheia de momentos dedicados ao ensino e paralelamente à beneficência, mormente por imperativo das suas convicções religiosas, a vida extinguiu-se-lhe em 8 de Dezembro, com 83 anos de idade. Nesta data a Filarmónica Mirandense perdia uma madrinha dedicada e Miranda do Corvo uma figura que muito amou esta nossa terra.» (artigo retirado do Jornal Mirante, Janeiro/1990)

Rua da Mata

Delimitada pela Rua Dr. Fausto Lobo (Este)

Esta mata continha uma parte particular e outra pública. Nesta foi edificado o original edifício do serviço de luta anti-tuberculosa, o Dispensário, no tempo do Dr. Fausto Lobo. Após o 25 de Abril neste edifício veio a nascer um Infantário. Serviu mais tarde também como sede do Clube Atlético Mirandense no tempo em que era presidente do clube o Sr. Aires Mendes Alves.

Em parte destes terrenos foi também construída a Sede da Federação de Municípios do Distrito de Leiria, entidade energética, da qual Miranda fazia parte, criada quando Afonso Garcês era Presidente de Câmara, e que foi importante para o processo de electrificação da vila. Miranda ao ter aderido àquela entidade e saído da Companhia Eléctrica das Beiras permitiu à Câmara ter lucro com a venda de electricidade pois ela era co-proprietária da rede de electricidade, tendo avançado a electrificação do concelho. Houve grandes melhorias, incluindo por exemplo a iluminação pública.

A primeira sede daquela instituição em Miranda foi provisoriamente em parte do prédio onde é hoje o Café Justino, pertença do Sr. Jaime Ramos. Aquela entidade será mais tarde absorvida pela E.D.P.. Parte do terreno da Mata passará depois para a propriedade da “Mirandinvest”, o que acarretará um problema jurídico pela passagem de um terreno público para a propriedade privada. Abrindo-se a Rua da Mata faz-se o acesso à Rua da Estação, contornando a Escola José Falcão e, no outro lado, levou-se a cabo um investimento imobiliário através da construção de uns prédios da iniciativa do Sr. Fernando Pereira.

Já agora, a modo de rodapé, podemos acrescentar que Miranda do Corvo foi das primeiras vilas a ter electrificação pública com a criação de um gerador público perto da serração do Sr. Manuel Dias, onde actualmente está a ser construído o prédio do Sr. Gabriel, na Rua João Paulo II. Miranda, que teve a tal fábrica de electricidade, colocou o último P.T. no Vale salgueiro em 1981. Miranda será, igualmente, um dos primeiros concelhos a ter cobertura domiciliária de água próxima dos 100%, logo na década de 80.

Rua da Mirandinvest

Delimitada pela Rua da Coutada (Sul)

Esta rua arranca da Rua da Coutada, a nascente e dirige-se para poente em direcção à Rua do Porto Mourisco. Foi aberta em 1989 quando era presidente de Câmara o Dr. Jaime Ramos e trata-se de uma iniciativa da “Mirandinvest, S.A.”, tendo os terrenos sido comprados à família Falcão, de Lamas, família que teve grande importância algumas décadas em Miranda.

A Mirandinvest foi formada por iniciativa de Jaime Ramos, quando era presidente de Câmara, com o intuito de que era preciso criar em Miranda uma empresa que captasse as poupanças de várias pessoas que em vez de depositarem esse dinheiro no banco, depositassem na Mirandinvest, fazendo um investimento em acções desta empresa e para que esta pudesse fazer a aplicação desse dinheiro na criação de desenvolvimento e riqueza para Miranda. Os investidores receberiam depois juros dos seus investimentos.

Tratava-se, pois, de uma sociedade anónima com a vocação de capital de risco, em que cada um investia o que achasse conveniente. A Mirandinvest tinha a Câmara como sócia promotora, havendo depois alguns sócios institucionais como era o caso da Companhia de Seguros “A Social” e o Banco Totta & Açores. Conjuntamente, os três parceiros davam alguma credibilidade e força institucional ao projecto. Depois havia alguns sócios particulares, uns de Miranda e outros não, pessoas de grande projecção política e grandes empresários como o era o Dr. Alexandre Gouveia, fundador do PSD, já falecido; o Sr. Arménio Leal dos Santos, radicado em Lisboa e outros.

A ideia era a empresa dinamizar o sector da construção civil e os lucros aproveitá-los para fazer alguns investimentos de risco como o caso de um hotel ou apoiar pessoas que não tivessem dinheiro, mas tivessem ideias para fazer empresas novas assentes no capital da Mirandinvest. É esta que permite, por exemplo, que uma pessoa dos Moinhos crie a “Mira-Arte” na zona industrial ou que faz o primeiro investimento para o aproveitamento de areias na zona do Vale de Arinto.

Estas são pois iniciativas patrocinadas de início pela Mirandinvest. Jaime Ramos foi o presidente do primeiro Conselho de Administração. Entretanto quando sai para o Governo Civil deixam-se de fazer novos investimentos, assentando quase exclusivamente a sua actividade na área da construção civil.

Rua da Moita

Delimitada pela Rua D. Afonso Henriques (Oeste)

Rua do Montoiro

Delimitada pela Rua de Penela (Sul)

A Rua do Montoiro nasce na Rua de Penela e faz também o acesso à Quinta da Paiva. É a rua principal deste lugar que é o primeiro a deixar de o ser para ser absorvido pela vila, sem que isso implicasse qualquer bairrismo. Ao lugar pertence parte da Rua de Penela, parte da Rua da Coutada e, também, uma parte da Rua Dr. Clemente de Carvalho, assim como a Travessa da Fonte que une a Rua do Montoiro à Rua da Coutada. Era talvez a zona mais pobre da vila de Miranda, sendo habitada por famílias de muitos poucos recursos.

Hoje, se percorrermos a Rua do Montoiro, notamos que as casas mais antigas eram muito baixas e muito pobres. Eram casas de piso térreo e erguidas na própria terra, sem alvenaria ou sequer sobrado no chão. A primeira calçada deste lugar é feita durante a presidência do Dr. Francisco Martins. Ao cimo existe o Largo do Montoiro: aqui se dava o cruzamento da actual Rua do Montoiro com a Rua da Zona Industrial e com a Rua de Penela, antiga E. N. 17-1. Aqui também se fazia o acesso à Quinta do Campo, pertencente à família de Afonso Garcês.

Este cruzamento acabou por originar um largo, com a mudança da Rua da Zona Industrial para junto da capela e com a abertura da Estrada 342, ficando ali algum terreno disponível, fruto dos processos de expropriação. Neste momento a Câmara actual presidida pela Dra. Fátima Ramos está a proceder ao arranjo deste largo já com um figurino urbano, oferecendo ao Montoiro esta pequena praça. Deste largo partirá agora também uma rua entre quintas, ainda sem nome, assente na antiga estrada real e que se encontra, actualmente, em construção, que irá fazer a ligação à Rua João Paulo II. Esta rua situa-se entre as duas grandes quintas da vila: a Quinta do Campo e a Quinta de S. Pedro, das Meãs.

Rua da Nossa Senhora da Conceição

Delimitada pela Rua de S. Mateus (Sudoeste)

e Largo Manuel Pereira Batalhão (Nordeste)

«Com início no Outeiro, no Largo Manuel Pereira Batalhão, esta rua prolonga-se em direcção à Igreja Matriz até ao entroncamento com a Rua Quebra-costas. O nosso roteiro conduz-nos assim a descobrir um pouco da zona mais antiga da Vila e seria agradável dispor de elementos que nos permitissem, por exemplo, responder à seguinte pergunta: Quando nasceu e como evoluiu este arruamento até à fisionomia actual?; a resposta a esta questão torna-se inviável; esta rua tem certamente como outras do nosso burgo, um passado muito sugestivo, mas cujos testemunhos se foram perdendo no tempo, principalmente em função das sucessivas remodelações das habitações das habitações que a ladeiam, remodelações que regra geral são feitas indiscriminadamente, sem procurar salvaguardar um mínimo do que de documental sempre existe e que é de capital importância para interpretar o passado.

A febre da recolha do material histórico teve a sua expressão mais acabada no fim do século passado e princípio deste século, com os chamados historiadores positivistas e foi continuada pelos defensores da denominada «história nova». Apesar do intenso labor histórico a que se tem assistido, uma pequena comunidade como a nossa é, regra geral, esquecida e assim as fontes históricas acabam por se perder.

Miranda, no entanto, contou ainda nesse campo, com a dedicação dum apaixonado pelos temas históricos, o Coronel Belisário Pimenta o qual procurou registar tudo quanto em Miranda ainda havia com valor histórico; infelizmente chegou tarde, quando já muito se tinha perdido. Hoje ao tentarmos recuar no passado deparamos com o vazio, como ele já em tempo declarou.

Ainda assim, tentaremos adiantar alguns factos novos e recordar outros já tratados. Este arruamento dá acesso directo ao edifício das antigas Escolas Primárias (sector feminino), que deixou de servir esse fim depois da entrada em funcionamento da Escola Primária, sita na Rua Dr. Rosa Falcão. Tem sido ocupada a título provisório por algumas colectividades da Vila; presentemente serve de estúdio à jovem Rádio Dueça que dali emite os seus programas.

Surge um pouco desajustado o termo «antigas Escolas Primárias» já que a sua construção é relativamente recente; data do início do segundo quartel deste século, sensivelmente entre os anos de 1927 e 1931.

Antes da edificação das Escolas, sobressaía neste local, com frente para a actual Rua Quebra Costas, a residência do pároco da Vila, natural de Bruscos, o qual cerca do ano de 1925 foi afastado das suas funções (…). Dá também para a rua que estamos tratando, a fachada norte de uma das casas antigas da Vila e já referida quando tratámos a Rua Combatentes da grande guerra, a qual foi em tempos propriedade da família Almeida. Tem entrada pela Travessa da Fonte dos Amores e nela residiu um clínico da nossa terra, o Dr. José de Almeida, que durante vários anos exerceu a sua actividade em Lavos, localidade do concelho da figueira da Foz

Também nesta artéria, numa casa já antiga, esteve sediado durante vários anos o posto da Guarda Nacional Republicana, como é do conhecimento de todos os Mirandenses. Defronte era a enxovia ou cadeia, segundo o termo actual, instalada numa parte da casa que outrora foi hospital.

Propositadamente, deixamos para último lugar a referência que queremos dedicar ao velho hospital que existiu nesta nossa Vila de Miranda do Corvo e cuja construção remonta ao ano de 1550 aproximadamente, data aferida a partir dos nomes das pessoas que constam da inscrição existente na fachada dessa casa, já que dela desapareceu a linha onde estava gravado o ano da sua erecção «por terem caído faíscas da pedra», conforme afirmava já em 1721 o Juiz ordinário desta Vila aquando do envio à Academia Real das Ciências, da lista relativa ao que em Miranda existia com valor histórico.

Como ficou dito na fachada do respectivo hospital, pode ver-se o que ainda existe daquela inscrição e que diz o seguinte: «Esta: casa: he do Espi(tal) (d)esta: Vila: de Mira(n)da a/: qual: se fez p(ar)a os (con)frades: e home(n)s bo(n)s: dela/: da q(ua)l: foy: vedor: d(iog)o arnao: escud(eir)o: e vassa/llo: e ouvidor: do Sr. andre: de Sousa/: e(m) esta: sua: vila: de miranda: e pode(n)/tes.......: no anno de myll/...... d(iog)o al(ve)s.»

O hospital teve como padroeiros a Sra. da Conceição, cujo nicho pode admirar-se no alto da frontaria, donde provém o nome desta rua; para que melhor pudesse cumprir a sua missão foi criada junto dele uma albergaria para «prover os pobres miseráveis que trazem cartas de sua pobreza».

Estas instituições revelaram-se de grande utilidade pelos serviços prestados ao longo dos tempos e que vêm sintetizados num artigo de Belisário Pimenta publicado no «Diário de Coimbra» em 05 de Janeiro de 1950: «Quanto à albergaria, as notícias são muito escassas e, possivelmente, haverá nelas certa confusão com o hospital; Miranda era atravessada por uma estrada que vinha dos altos de Chão de Lamas (onde cruzava com a estrada Coimbra-Podentes) e seguia para a Lousã juntando-se na vizinha povoação do Corvo com a estrada real que, vinda de Lisboa pelos Cabaços, atravessa o concelho desde a Sandoeira ao Padrão e seguia por Foz do Arouce para a Mucela e daqui para a Beira Alta.

Era, pois, ponto de passagem forçada da Estremadura para a Beira; e assim se justificava a instituição que tinha por principal finalidade (como disse) prover os pobres miseráveis que trazem cartas de sua pobreza – isto é, dar-lhes cama e sustento para poderem continuar o seu caminho.

Do hospital porém há mais notícias, pois esses viandantes nem sempre vinham de saúde e o obituário da freguesia dá conta de muitos deles que não resistiram ao cansaço da jornada ou às doenças contraídas assim como também acusa gente do concelho que, certamente por miséria e abandono, ali ia acabar os tristes dias.

É até emocionante o encontro de certos assentamentos paroquiais que, na simplicidade com que os párocos os lançaram deixam antever os sofrimentos desses caminhantes e miseráveis.

Num dia de Dezembro de 1585 (o primeiro encontrado), lá morreu “uma pobre que dizia ser da Lousã”; noutro de 1591, certa Maria Pires a bispa de alcunha, quem sabe se mendiga perseguida pelas chufas do rapazio; oitenta anos depois, outra pobre sem nome; passados mais uns anos, em 1613, lá ficou um vagabundo vestido de romeiro; mais anos passados um homem do lugar do Lapão e quase ao mesmo tempo, em 1658, por alturas da guerra de Espanha, um soldado que se dizia ser de perto de Viseu e pouco depois um estrangeiro chamado Raimundo.

Por esta época há maior número de óbitos: em 1662 uma mulher de Alvares; dois anos depois outra que disse ser da Covilhã; mais dois anos passados, “hum mosso” que disse ser de Alfarelos; e mais adiante um homem de Mangualde e ainda uma criança de 9 anos, de Guimarães, que ia em trânsito com a mãe...E assim sucessivamente.

Que soma de miséria e sofrimento nos dá o longo obituário, até fins do séc. 18.º! Depois novas ideias e novas leis vieram. E o velho hospital acabou.» (RODRIGUES, Armindo, Toponímia Mirandense – subsídios para a sua história, jornal “Mirante”, nº 130, Miranda do Corvo, 1988).

Rua dos Oleiros

Delimitada pela Rua Arménio da Costa Simões (Oeste)

“O mayor trato desta Villa são oleyros (...)” afirma o Pe. Carvalho da Costa, autor da “Corografia Portugueza”, no início de setecentos. A indústria da olaria de barro vermelho, de remota origem, teve largo incremento nos sécs. XVI e XVII. Na segunda metade do séc. XVII, verifica-se que os núcleos residuais dos oleiros na vila eram principalmente no Relego (a poente); nos Linhares (a noroeste); no Outeiro e Carvalhal (a norte), locais na periferia da povoação como era natural.

A partir do séc. XVIII, a «indústria» começou então a decair; os oleiros deixaram a vila onde de início a indústria floresceu para se abrigarem nos arrabaldes – Bujos, Espinho e Carapinhal. Os homens que exerciam esta indústria e que naqueles séculos a documentação dá como elementos de alguma proeminência social, decaíram até à modesta condição que gozavam já no séc. XX. E, para mais, como Coimbra era o principal centro de venda dos artefactos e como eles tinham - e ainda têm – um certo cunho artístico, a olaria ficou conhecida como sendo da cidade e daí vem que o asado – atributo indispensável da imagem corrente da Tricana -, o cântaro, o púcaro de Coimbra, celebrados pelos artistas e etnógrafos, perderam a sua verdadeira origem.

Os moringues, bilhas, talhas, cabaças são de uma elegância tal que alguém já comparou a esbeltez destas peças à escultura grega. O nome dado a esta rua justifica-se porque, partindo esta da vila, orienta-se na direcção do Carapinhal, actual única aldeia onde ainda subsistem, em actividade, oleiros do barro vermelho.

Rua de Pai Viegas

Delimitada pela Rua de Penela (Sul)

A estrada 342 impôs também mudanças à Rua de Pai Viegas. Esta rua nascia em frente à capela do Montoiro mas com a construção da 342 teve que ver o seu início alterado para a nova rotunda que faz o acesso àquela variante, a Pai Viegas e à Quinta da Paiva. Esta rua foi construída no início da década de 80 quando Jaime Ramos era presidente da Câmara.

(Rua que parte da Rua do Santo, sem saída)

Delimitada pela Rua do Santo

Esta rua nasce da iniciativa dos moradores com o apoio da Câmara, na altura presidida pelo Dr. Jaime Ramos. Apesar da rua ser relativamente recente viveram aqui duas personagens relevantes para a história do concelho. Um deles foi o Sr. Hélder Lamas, empresário de sucesso e que esteve na base, por continuação da obra pelo seu filho, o Sr. João Lamas, da actual empresa “Kamasutra”, empresa esta que, em termos de imagem, é actualmente uma das empresas mirandenses mais conhecidas a nível nacional.

Uma das primeiras casas desta rua foi pertença dessa outra grande figura que foi o Pe. José Guedes Quitério, que quando vem para Miranda, suceder ao Pe. Coimbra, constrói ali a sua casa o que confere logo um grande protagonismo àquela rua. A visita ao padre é algo muito importante porque é preciso falar muitas vezes com ele, o que torna, desde logo, a rua importante.

O Pe. Quitério é uma figura interessante também porque colaborou sempre desde o início com a Rádio Dueça porque a rádio era ilegal, “pirata” como se dizia, e ele permitiu que ela fosse instalada em propriedade da Igreja, na Casa Paroquial onde foi feito o primeiro estúdio, exactamente para impedir que ela pudesse ser encerrada. O Pe. Quitério era pois um indivíduo muito aberto a apoiar projectos com alguma inovação.

Rua Pe. Fernando Coimbra

Delimitada pela Rua da Casa do Gaiato (Oeste)

Após 12 anos de sofrimento faleceu a 3 de Fevereiro de 1990, com 74 anos de idade, o Pe. Fernando dos Santos Coimbra, natural da freguesia de Almalaguês, onde nasceu a 27 de Janeiro de 1916.

Transcrevemos excertos de um artigo do Sr. Fausto Branco, publicado no jornal “Mirante”, em Março de 1990, aquando do seu falecimento: «Ordenado em Coimbra a 29 de Junho de 1941, foi a seguir nomeado pároco de Tavarede e em 2 de Agosto de 1943 colocado pároco de Mortágua, até 2 de Agosto de 1948, data em que assumiu a paroquialidade da freguesia de Miranda do Corvo que exerceu durante 29 anos, até cair gravemente doente em 17 de Setembro de 1977.

A partir desta data recolheu-se ao Lar Dr. Clemente de Carvalho e aí terminou a sua vida neste mundo, rodeado de conforto e muito carinho não só das duas empregadas – Maria dos Anjos e Isabel Ferreira – que o acompanharam praticamente desde o início do funcionamento do Lar, mas também dos próprios utentes mais antigos, a quem sempre deu abundantes provas de amizade, resignação e humildade.

O trabalho de evangelização do Pe. Coimbra na paróquia de Miranda foi sempre orientado no princípio da construção de uma comunidade cristã autêntica. A sua preocupação constante era o preparar pessoas capazes de praticar um cristianismo incarnado na vida concreta de cada uma. Nas suas conversas havia sempre um sentido apostólico e a sua pregação era profunda. Por vezes notava-se que o seu entusiasmo o fazia esquecer o nível intelectual do auditório. Pairava muito alto em relação aos horizontes dos seus ouvintes.

Foi um sacerdote piedoso que orava e ensinava a orar. Dizia que durante as suas caminhadas, tanto a pé como de bicicleta, pela paróquia, a sua mente ia constantemente mergulhada na oração e até atribuía a esta prática a graça da abundância de ideias que sempre lhe ocorriam quando tinha de falar das coisas de Deus.

O Pe. Coimbra foi um grande amigo da Igreja e, já bastante doente e com imenso sacrifício, ainda concretizou o sonho de publicar um livro, a que chamou “A Igreja e a Democracia” onde expõe o seu pensamento, sempre de acordo com a doutrina da Igreja. Foi um grande amigo dos pobres do concelho e um fiel cumpridor do seu múnus sacerdotal que sempre executou com seriedade e amor.

As pessoas que melhor o conheceram viam nele o carisma do “Conselho”, através do qual muitas pessoas e famílias encontraram o rumo certo para as suas vidas.

O autor destas linhas tem dado muitas graças a Deus pelos conselhos recebidos do Pe. Coimbra durante muitos anos e por vezes em situações de ansiedade. Foi uma pessoa duma modéstia impressionante e sempre adoptou um teor de vida que não se afastava do nível geral da vida dos seus paroquianos. Mesmo depois da sua doença viveu e conviveu com os pobres do Lar a quem deu belos exemplos de humildade.

Miranda teve também no Pe. Coimbra um grande amigo, apaixonado pelo progresso da nossa terra e, no jornal inter paroquial por ele fundado juntamente com o então pároco da Lousã, a “Voz da Paróquia” defendeu com visão de futuro na coluna “Miranda quer viver” posições sobre o progresso de Miranda que ele adoptou como sua terra.

Um outro modo de motivar e mobilizar a opinião pública no caminho do progresso muito usado pelo Pe. Coimbra com sucesso, consistia em entusiasmar as pessoas amigas que ele julgava mais influentes a compreenderem e a aceitarem determinadas ideias por ele concebidas para o bem do povo. Ao fim de algum tempo estas ideias tinham fermentado o suficiente e as obras apareciam.

Foi assim a construção da residência paroquial (que era um repositório de lixos e silvas), das casas para os pobres e do “Património dos Pobres”, as obras do Calvário, a fundação e funcionamento do Lar Dr. Clemente de Carvalho e a construção ou reparação de diversas capelas e outras obras de carácter social.»

Relativamente ao Alto do Calcário – ou Caramito - o pároco Fernando dos Santos Coimbra apercebeu-se da beleza daquele local. Após mandar construir a residência paroquial no local actual, pensou o pároco em aproveitar aquele local para algo aprazível e acolhedor. Pediu então a colaboração do Sr. Fausto Branco, da Fábrica da Igreja e do Sr. Mário Antunes, um emigrante endinheirado do Brasil. Procedeu-se ao levantamento topográfico do local e fez-se um projecto.

«A Câmara de Miranda soube reconhecer o valor e a obra do Pe. Coimbra e atribuiu-lhe a medalha de mérito do concelho, imposta numa cerimónia em Miranda a que presidiu o então Presidente da República, General Ramalho Eanes.

Com a morte do Pe. Coimbra todos temos a consciência da perda de um grande amigo, e a melhor homenagem que podemos prestar à sua memória é sermos dignos continuadores daquilo que sempre esteve no seu pensamento: o amor a Deus e à Sua Igreja e o amor aos irmãos, particularmente aos mais pobres e desprotegidos (...)»

Rua Pe. Horácio Francisco Azeiteiro

Delimitada pela Rua da Casa do Gaiato (Oeste)

O Padre Horácio Azeiteiro, antigo director da Casa do Gaiato de Miranda do Corvo, faleceu no dia 6 de Maio de 2000, em Setúbal, onde se encontrava de visita àquela casa da Obra da Rua. Horácio Francisco Azeiteiro era natural de Lentisqueira, Mira, e nasceu no dia 28 de Janeiro de 1924, tendo-se ordenado em 17 de Setembro de 1950, altura em que passou a dirigir a Casa do Gaiato de Miranda do Corvo.

A sua vida ficou bastante ligada a esta terra, não só por ter estado à frente da instituição durante muitos anos, mas pela acção social e pastoral que exerceu junto da população do concelho. Os pobres e doentes tiveram nele um visitador frequente não lhes faltando com a esmola acompanhada de palavras de conforto e de esperança.

No campo espiritual desenvolveu uma acção importante junto dos que o procuravam, participando nos actos religiosos da freguesia ou substituindo os párocos nos seus impedimentos. Presidiu ainda à mesa da assembleia da Cooperativa de Olivicultores de Miranda do Corvo.

Quando deixou a directoria da Casa do Gaiato, após a trombose que o atingiu, dedicou-se à visita dos doentes e pobres, não só de Miranda mas também dos concelhos limítrofes. O seu falecimento foi bastante sentido pelas pessoas que acompanhavam de perto a sua acção em prol dos desprotegidos. Mesmo na sua morte não quis deixar de dar um exemplo de humildade ao pedir para ser levado na urna mais barata que houvesse. O corpo deste bondoso sacerdote foi trasladado para a Casa do Gaiato de Miranda do Corvo, onde ficou em câmara ardente, sendo posteriormente sepultado na sua terra natal.

Rua de Penela

Delimitada pela Rua Dr. Clemente de Carvalho (Norte)

Na continuação da Rua Dr. Clemente Carvalho até à saída de Miranda, em direcção a Penela, encontramos esta rua. O nome desta rua foi dado durante a presidência de Jaime Ramos, numa altura em que se baptizaram algumas vias dotando-as de características mais urbanas, fruto do crescimento patenteado pela vila. Nesta Rua de Penela e ligada ao Largo do Montoiro há um aspecto curioso a ter em conta: aqui existiam dois importantes estabelecimentos comerciais, um deles era pertença do Sr. Francisco, conhecido como o “Chico da Venda”, uma taberna tradicional; e em frente localizava-se a do Sr. Artur.

As duas lojas localizavam-se exactamente em frente uma da outra, criando uma grande vida naquele Largo do Montoiro, não só para as pessoas do lugar mas também para as da vila. Será talvez deste tempo que poderemos ir buscar duas características de que as pessoas do Montoiro são acusadas que é a de que falam todos ao mesmo tempo e a de que falam todos no meio da rua. Será deste facto, de as pessoas se juntarem no meio da rua entre aqueles dois estabelecimentos, a falar em amena cavaqueira?

Rua do Porto Mourisco

Delimitada pela Rua da Coutada (Sul)

Esta rua nasce na Rua da Coutada a sul e encontra, a norte, a Rua da “Mirandinvest”. Assenta num antigo caminho de serviços agrícolas que foi melhorado, pavimentado e alcatroado há cerca de três anos na presidência da Dra. Fátima Ramos.

Rua da Quinta das Barriguinhas

Delimitada pela Rua dos Oleiros (Norte)

Rua do Quebra-Costas

Antiga Rua da Ermida

Delimitada pelo Largo dos Balaustres (Noroeste)

e Rua dos Combatentes da Grande Guerra (Sudeste)

«Junto ao último lanço de escadas da rua Quebra Costas, pode ainda admirar-se um portal que dá acesso à conhecida “Casa do Jardim” a qual, principalmente entre as gentes da Vila é conhecida igualmente como a sede histórica do Clube Atlético Mirandense.

O referido portal encontra-se mencionado num rol em folhas avulso, referente a vários monumentos e Casas antigas do concelho de Miranda do Corvo, donde transcrevemos a seguinte passagem: “Na Rua da Ermida, vê-se ainda um portal, de friso, cornija, dominado de óculo quadrilobado, dum edifício já do séc. XVIII.”

O óculo quadrilobado que encimava o referido portal já ali se não vê, a sua estrutura foi retirada ou encoberta aquando das obras a que essa casa foi sujeita e que foram levadas a efeito pelo pai do nosso conterrâneo Sr. Lídio Brás, por volta de meados do segundo quartel deste século, das quais resultou a fisionomia que apresenta actualmente.

Transpondo esse portal vamos encontrar a já referida “Casa do Jardim” citada igualmente no rol acima mencionado, nos termos seguintes: “Na vertente com entrada pela rua que leva à Igreja, outra (casa antiga) se destaca, conservando a imponente varanda, que se levanta em arco simples, sendo dois na frente, aos quais correspondem em cima quatro vãos, separados por colunas toscanas e pilares angulosos, aqueles e estes levantando-se em parapeito”.

Vem a “talho de foice” dizer que habitou esta casa Manuel Fernandes Cosme, avô dos senhores Alexandre e Arnaldo Cosme, figuras que gozam fama dum peculiar sentido de humor. Estas características fazem deles dignos representantes do seu avô, o qual, segundo apurámos, era também um indivíduo que brincava com as palavras, construindo ditos jocosos, cheios de espírito e oportunidade.

Foi uma figura de certa projecção local tendo desempenhado na Vila alguns cargos importantes tais como o de Administrador do Concelho, Juiz de Paz e Juiz de Águas. (...)» (RODRIGUES, Armindo, Toponímia Mirandense – subsídios para a sua história, jornal “Mirante”, Miranda do Corvo, 1988).

Rua da Ribeira dos Vicentes

Delimitada pela Rua dos Oleiros (Noroeste)

e Rua da Casa do Gaiato (Sul)

Belisário Pimenta alude à, enfim, remota possibilidade de haver alguma relação entre este local e a família do maior comediógrafo medieval e moderno português, exactamente, Gil Vicente, cuja localidade de nascimento ainda não é hoje de todo consensual entre os investigadores portugueses.

Rua de Santa Catarina

Delimitada pela Rua João Paulo II (Oeste)

Rua de Sta. Teresinha

Delimitada pela Rua do Montoiro

Trata-se de uma rua sem saída na zona do Montoiro. Tem início junto ao antigo lavadouro, hoje sede da Associação do Montoiro, cedido à colectividade para que estes fizessem as obras de adaptação, quando era presidente de Câmara o Dr. Jaime Ramos. Esta rua nasce das primeiras construções levadas a cabo pelo Sr. Eduardo Fachada e pela Sra. Arminda Fachada que eram filha e genro, respectivamente, de José Ramos.

Estes terrenos terão depois continuidade com o Sr. José Pereira, um individuo casado com uma senhora indiana, regressado de Moçambique após o 25 de Abril e que acaba por fazer ali umas construções, acabando por surgir ali aquela rua. A rua tem esta designação porque o Sr. José Pereira queria homenagear uma pessoa da sua família com o mesmo nome.

Rua de S. Silvestre (ou Rua do Santo)

Delimitada pela Rua dos Oleiros (Oeste)

Padroeiro da aldeia do Carapinhal, de que subsiste uma imagem pétrea que, segundo especialistas, pode ser datável do séc. XIV, tornando-se assim uma das imagens religiosas mais antigas do concelho. Pode ser apreciada na capela do lugar.

Rua de S. Mateus

Delimitada pela Rua da Nossa Senhora da Conceição (Nordeste)

« (...) Ainda no início deste século funcionava na casa que é hoje do Sr. Arnaldo Cosme, a chamada “Recebedoria”, termo ainda utilizado pela população mais idosa para designar a actual repartição da Tesouraria da Fazenda Pública. Achamos interessante também recordar a data da construção das actuais escadas que levam à Igreja. Essa data, 1907, encontra-se desenhada a vidraço e basalto, no primeiro lanço, ao fundo da escadaria.

Também nesta rua, a última casa à direita de quem sobe, merece talvez ser referida em função da sua fisionomia equilibrada e que foi residência do Dr. João Pimenta, mirandense que serviu nas forças armadas como médico militar.

Com a fachada norte para a Rua do Calvário, mas com entrada pela Rua Quebra-costas, situa-se na encosta ao alto, uma casa já antiga que nos anos quarenta serviu de sede ao Clube União Mirandense.

Também conhecido depreciativamente pelo nome de “CUIA”, esta colectividade foi formada por um grupo de mirandenses dissidentes do Grupo Recreativo Mirandense os quais se propuseram fundar uma colectividade em alternativa àquele Grupo Recreativo e cuja finalidade era também proporcionar à população, motivos recreativos tais como bailes, programas de variedades, etc..

Da sua Direcção fizeram parte nomes de conhecidos mirandenses que nos permitimos recordar: Afonso Baptista, Lucas Pedro (Lobazes), José Camilo (Bilote), Jaime Cordeiro, entre outros.

Sem pretender ferir a sensibilidade de ninguém, vem a propósito recordar um episódio algo cómico, que tem a ver com a vida das duas colectividades.

O Clube União Mirandense, programou com grande propaganda, um baile a realizar pelo Carnaval com uma orquestra surpresa.

Essa orquestra era, nem mais, nem menos que os gaiteiros de Espinho que deveriam fazer a sua “entrada” em Miranda, a tocar, desde a Cruz Branca até à Praça José Falcão onde seriam recebidos pomposamente ao som de foguetes.

Sabedores da encenação, os adeptos do Grupo Recreativo organizaram um conjunto antecipando-se aos gaiteiros.

Ao som da música estralejaram os foguetes e... imagine-se a cara com que os da União receberam os seus rivais...» (RODRIGUES, Armindo, Toponímia Mirandense – subsídios para a sua história, jornal “Mirante”, Miranda do Corvo, 1988).

Rua Sebastião da Cruz Lopes

Delimitada pela Rua Dr. Fausto Lobo (Este)

e Rua da Estação (Oeste)

A 25 de Novembro de 2000 faleceu nos Hospitais da Universidade de Coimbra, vítima de enfarte do miocárdio, Sebastião da Cruz Lopes, de 64 anos, solteiro, natural e residente em Miranda do Corvo. Escriturário da Cooperativa Agrícola de Miranda do Corvo, foi também um elemento prestimoso nas colectividades de Miranda do Corvo, tendo feito parte dos corpos gerentes de quase todas elas. Foi ainda vereador da Câmara Municipal e membro da Assembleia Municipal e correspondente do “Diário de Coimbra” e do jornal “República” até à sua extinção.

Destacado lutador da oposição ao regime salazarista deu a cara em todas as campanhas eleitorais que se fizeram. Após o derrube da ditadura filiou-se no Partido Socialista de que foi dirigente nas estruturas locais e regionais, onde desempenhou uma intensa actividade política e cívica, tendo sido também candidato a deputado.

Era uma pessoa muito prestável quer na sua actividade profissional, quer como sócio da sua casa comercial. Por isso, na hora do adeus, para além dos seus conterrâneos, estiveram a apresentar condolências à família muitos amigos de vários pontos da região centro, especialmente da Lousã, Coimbra e Soure, e figuras gradas daquele partido, tendo o seu funeral constituído uma grande manifestação de pesar. Era irmão de Abel da Cruz Lopes e de José da Cruz Lopes, comerciantes, e cunhado de Altina Bingre de Sá e de Deonilda da Piedade Lopes da Cruz.

(Rua sem nome resultante dos prédios feitos pelas “Construções Dueça” no Montoiro)

Delimitada pela Rua do Montoiro (Este)

Em terrenos da Sra. Arminda Ramos e do Sr. Eduardo Fachada, já falecidos, surge um conjunto de construções em altura, promovido pelas “Construções Dueça” do Sr. José Luís e do Sr. Guilherme. A rua não tem nome mas quando era vivo o Sr. Eduardo Fachada este desejava que esta rua tivesse o nome do seu sogro, o Sr. José Ramos.

(Rua transversal entre a Avenida Pe. Américo e a Rua da Casa do Gaiato)

Delimitada pela Av. Padre Amérco (Sul)

Construída na presidência de Jaime Ramos nasce da iniciativa da família Costa Simões que possuía aí uns terrenos e que faz a operação de loteamento.

Rua da Volta da Costa

Delimitada pela Praça da Feira da Sardinha (Este)

Havia aqui um antigo caminho que foi alargado e alcatroado na segunda metade dos anos 80, era presidente de Câmara o Dr. Jaime Ramos. Ainda nesta presidência, mas mais tarde, ligou-se a esta rua uma outra vinda de cima do Largo do Calvário, quando se fez a ampliação do cemitério, permitindo os sentidos únicos. Recentemente teve obras de melhoramento com a colocação de guardas laterais e novo pavimento, conferindo-lhe um aspecto mais seguro, já na presidência da Dra. Fátima Ramos.

Rua da Zona Industrial

Antiga Recta da Pereira

Delimitada pela Rua de Penela (Oeste)

Esta rua nasce na Rua de Penela, a poente. Surgiu, primeiramente, no Largo do Montoiro mas teve que ser mudada com a construção da variante 342 que impôs o corte da antiga Recta da Pereira e a mudança do seu início para próximo da capela.

A zona industrial nasce quando Jaime Ramos era presidente da Câmara, altura em que se compram os primeiros terrenos. A primeira empresa que lá é criada pertence a um indivíduo do Bubau, o Sr. Augusto, que instala ali uma fábrica de escovas. A segunda a nascer foi a “Plaquemar” erigida pelo Sr. Francisco Frade e pelo Sr. Alberto Ferreira. Em todo o caso esta Recta da Pereira já tinha alguma tradição industrial: havia uma antiga serração iniciada pelo Sr. Arménio Batista que depois teve continuidade com o seu filho, Arménio Branco Batista, que posteriormente fechou dada a crise que afectou as serrações.

No início desta rua existiu também uma antiga fábrica ligada ao barro vermelho, pertença do Sr. Pedro dos Santos e que fabricava, fundamentalmente, tigelas para a resina. Havia ainda uma fábrica de resina onde hoje está a zona industrial propriamente dita, de que subsistem algumas ruínas das antigas construções. Extravasando já a própria Recta da Pereira não poderemos esquecer, na Pereira, um dos maiores investimentos industriais que o concelho teve levado a cabo pelo Sr. Henrique Mesquita ligada à óptica e armações ópticas e que teve continuidade pelas suas duas filhas e pelo seu genro que têm mantido a empresa a funcionar.

Quelha dos Malmequeres

Delimitada pela Ladeira do Carvalhal (Sudoeste)

Travessa dos Alhos

Delimitada pela Rua dos Combatentes da Grande Guerra (Oeste)

e Rua Dr. Mário de Almeida (Este)

Aqui viveu uma personagem importante que foi o Sr. José Vicentino, falecido há pouco tempo, que ali possuía uma sapataria que dava para a Fonte dos Amores mas também estava ligada a esta travessa. Este senhor foi o primeiro presidente da Junta depois do 25 de Abril numa equipa da qual também fazia parte o Sr. Artur “Caracol”.

Travessa da Fonte dos Amores

Delimitada pela Rua do Cruzeiro (Noroeste)

e Rua dos Combatentes da Grande Guerra (Sudeste)

Travessa do Mercado

Delimitada pela Praça da Liberdade (Oeste)

e Rua 25 de Abril (Este)

Travessa do Quebra-Costas

Delimitada pela Rua do Quebra-Costas (Sudoeste)

BIBLIOGRAFIA

  • Artigos nos jornais “Mirante” de Miranda do Corvo, “Alma Nova” da Lousã, “Diário de Coimbra” e “Diário de Notícias”
  • CAPÃO, António Tavares Simões, As Cartas de Foral de Miranda do Corvo, Miranda do Corvo, Cooperativa Mirante, 1989
  • CORREIA, Vergílio, Oleiros de Miranda, in Revista Rajada, nº4
  • GONÇALVES, Pe. António Nogueira, Inventário Artístico – Distrito de Coimbra, Lisboa, Academia Nacional de Belas Artes, 1952
  • LEAL, Augusto Pinho, Portugal Antigo e Moderno, vol. V, Lisboa, Livraria Editora de Mattos Moreira & Companhia, 1875
  • PIMENTA, Belisário, Miranda do Corvo: a sua paisagem e um pouco da sua história, Coimbra, Sociedade de Defesa e Propaganda de Coimbra, 1959
  • PIMENTA, Belisário, Oleiros de Miranda do Corvo, Coimbra, Imprensa da Universidade, 1933
  • PIMENTA, Belisário, Uma Epidemia em 1811. Capítulo da história do concelho de Miranda do Corvo, sep. da “Coimbra Médica”, Coimbra, 1942
  • PIMENTA, Belisário, “A Campanha de Massena em Portugal - capítulos duma monografia local”, in Revista Militar, vol. LXXXIII, Lisboa, 1931
  • PIMENTA, Belisário, Miranda de Outros Tempos (Notas para a História Local), semanário Alma Nova, Lousã, anos 2º a 4º, Lousã, 1923-1925
  • RODRIGUES, António Manuel Carvalho, Da Arte de Miranda – Para uma Monografia de Miranda do Corvo, C.M.M.C., Miranda do Corvo, Tipografia Lousanense, 2006
  • RODRIGUES, Armindo, Toponímia Mirandense – subsídios para a sua história, colectânea de artigos publicados no jornal “Mirante”, Miranda do Corvo, 1988
  • Recorremos, igualmente, a contributos orais em suporte áudio de algumas personalidades da vila entre as quais se inclui o Dr. Jaime Ramos.

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