Histórias de Pescadores Prainha do Leste, Barra da Lagoa, Florianópolis, Santa Catarina.

Fotos e texto de Marcio Pimenta

Antes mesmo do primeiro raio de Sol brilhar no horizonte, estão todos reunidos no improvisado barracão de madeira de 20 metros quadrados. O cheiro do café recém preparado invade o ambiente. Calmamente todos se servem.

Entre bombeiros, segurança de boate, aposentados e donos de restaurante, são 18 homens que por 3 meses, todos os anos, de maio a junho, se reúnem para a época da tradicional pesca de tainha, na Prainha do Leste, Barra da Lagoa, em Florianópolis, Santa Catarina.

Convivi com eles durante 25 dias consecutivos, com o objetivo de retratar a vida cotidiana destes homens que vivem da pesca artesanal da Tainha Mullet - Mugil Chephalus, uma tradição na ilha herdada dos povos que vieram da Ilha de Açores, em Portugal e que hoje se encontra em perigo de extinção devido às modernas técnicas de pesca.

A pesca do arrastão de praia no litoral sul e sudeste do Brasil, particularmente no litoral do Paraná e Santa Catarina, vai contra a tendência da globalização. É um dos resquícios da sociedade comunitária, na qual os valores e os interesses sociais, culturais, econômicos e políticos são compartilhados por todos, vivendo-se em conjunto, unidos por uma consciência histórica.

Durante o tempo que convivi com estes pescadores, assisti ao sentido de companheirismo, tradição, paciência, regras e valores não escritos, mas de forte respeito entre os seus membros para que haja sucesso não apenas na atividade econômica, mas também de convívio e solidariedade entre os seus integrantes.

O respeito é entendido como um código de regras consensuais, socialmente negociadas e estabelecidas ao longo do tempo. Esses valores, culturalmente transmitidos entre as gerações de pescadores, visavam ao estabelecimento de arranjos para evitar ou mediar possíveis conflitos, garantindo um acesso equitativo aos estoques de peixes, e eram regulados pelos próprios pescadores.

É verdade que a pesca artesanal da tainha apresenta pouca expressão econômica, mas subsidiou a existência das famílias litorâneas por muitas gerações. É ainda considerada pelos pescadores uma prática socializadora, pois reúne crianças, jovens, mulheres, idosos, e é economicamente justa, pois os rendimentos são equitativamente divididos (segundo as tarefas realizadas) entre os integrantes do grupo.

Mas, sem dúvida, a paciência é a maior das virtudes. Não é incomum dias em que não se pesca um único peixe. Do alto de uma pedra, o observador avisa aos demais que há um cardume. Então se lançam ao mar aberto. E, claro, querem voltar com o barco cheio.

Mas mesmo quando o barco volta vazio, com uma fé inabalável, eles sabem que o mar talvez seja mais profundo do que as suas possibilidades. Então esperam por um outro mar possível. Em dias assim, jogos de azar, conversas e brincadeiras ajudam a ocupar o tempo. Um tempo que está se esgotando, e que logo, com todo avanço da tecnologia, poderá vir a ser esquecido.

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