Renan Serrano O hacker das vestimentas
Renan Serrano representa a moda jovem que emerge em São Paulo. Formado em moda pela Universidade Santa Marcelina, Serrano fundou sua marca, TRENDT, em 2011 após se formar em 2010. Em 4 anos de marca, ele conseguiu estabelecer uma estética própria e hoje possui um grupo fiel de consumidores que apelidou de “Família Trendt”.
Para o nosso encontro, Renan escolheu a agência CuboCC e a escolha não podia ser mais adequada. Logo ao entrar você se depara com uma porta semelhante a um cofre e que se abre sozinha ao passar o cartão. O interior da agência é repleto de paredes pretas e a decoração parece ter saída do clipe Bad Romance de Lady Gaga. Uma primeira impressão bem marcante. Encontro o Renan em um pequeno estúdio fotográfico onde ele fotógrafa as peças da sua nova coleção. O estilista logo me revela que está hackeando o espaço, uma espécie de ocupação informal.
As roupas de Renan possuem uma certa calmaria que o estilista revela ser parte da filosofia que o rege: a roupa sem rastro que depende da interpretação pessoal do usuário. Tal gesto é visto na etiqueta da marca que é apenas um retângulo costurado, sem alguma informação. Para o estilista, suas roupas são feitas para o corpo auto mídia, que é aquele que define como cada roupa deve ser usada, criando um resultado que foge do controle do designer e devolve ao usuário o seu poder de decisão (algo que foi soterrado pelo volume de informação e estímulos de compra que somos submetidos diariamente).“Durante a faculdade eu não escolhia muito um tema especifico, pois não queria me prender a uma estética. Procuro evoluir com o tempo. E no final, decidi que o meu tema é o processo criativo.” me revela Renan, a explicação é perfeita para alguém que cria um corpo de obra que parece se expandir sem mudar a linguagem e abordagem.
Outro forte do estilista são seus vestidos e camisetas com recortes em devorê que se assemelham à estampas tribais minimalistas. “As minhas estampas vêm da minha obsessão pelas Arts & Crafts. Como por exemplo a Art Nouveu que trabalha em cima dos portões de metais e pensei 'o que tem de parecido no Brasil?' e percebi que os portões das residências de São Paulo não têm em outro lugar do mundo.” explica Renan. Seu trabalho me fez pensar nas estruturas arquetípicas brasileiras e da maneira que inconscientemente repetimos padronagens originárias da mitologia indígena, ressignificando e atribuindo valores estéticos modernos. “Eu busco olhar para história e criar uma vertente nova do passado.” sumariza Renan sobre as escolhas por trás da TRENDT.
Eu busco olhar para história e criar uma vertente nova do passado
O aspecto que mais me chama atenção sobre Renan é o fato de ele ser um hacker da sociedade (palavras do próprio). Ao questioná-lo sobre o seu processo criativo, ele me conta sobre a sua experiência em uma viagem recente. “Quando estive no Japão, eu conheci um tear manual de seda que não final da visita permitia que os visitantes batessem o tecido. Das primeiras vezes eu errei e notei que o tecido formava algo que nunca tinha visto antes, comecei a errar propositadamente e no final o erro gerou um novo tecido.” A anedota revela a personalidade de uma pessoal curiosa que não se contenta com o que o sistema lhe oferece.
Comecei a errar propositadamente e no final o erro gerou um novo tecido
O que esperar do futuro da TRENDT? Renan conta que tem planos para inaugurar ano que vem a primeira loja física da marca. O espaço será uma experiência imersiva no cerne da marca, contará com microscópio para análise de tecido e não contará com a presença de vendedores, criando um ambiente similar ao do biohacking. O experimentalismo da marca é o que a torna essencial para a cena da moda brasileira, que enfrenta uma época de bloqueio criativo e engessamento estrutural. É sempre bom que existam pessoas como Renan Serrano que aos poucos vão elevando o patamar da moda independente made in Brazil.